domingo, 31 de julho de 2011

Abkházia avança em projeto de construir bases de uma nação

A Abkházia é um minúsculo território, com pouco mais de 8 mil km² (o mesmo tamanho da região metropolitana de São Paulo), espremido ao sul da Rússia, entre as montanhas do Cáucaso e o Mar Negro, é a causa de um dos mais sangrentos conflitos ainda sem resolução dos últimos 20 anos.
O território passou por diversos momentos de independência e autonomia ao longo dos últimos dois mil anos, mas foi também incorporado ao Império Russo e à Geórgia em outros momentos. Durante os anos da União Soviética (URSS), a Abkházia era uma República Autônoma da Geórgia (o que equivale a uma província ou estado).
Os abkházios, no entanto, sempre se consideraram mais próximos dos russos que dos georgianos. Os anos de convívio forçado estremeceram ainda mais as relações - os abkházios se consideravam cidadãos de segunda classe frente aos georgianos, sendo impedidos de estudar sua língua nativa e enfrentando restrições para avançar nos postos de trabalho -, além de ver um grande número de georgianos adquirindo imóveis e relocando-se para seu território graças a generosas políticas de "urbanização" do governo da Geórgia.
Com a desintegração da URSS, os abkházios travaram entre 1992 e 1993 uma sangrenta guerra de independência e se recusaram a formar uma federação com a Geórgia. O resultado: massacres e limpezas étnicas, cometidos dos dois lados, que deixaram mais de 8 mil mortos oficiais, cerca de 250 mil refugiados e um território esparsamente povoado e empobrecido.
A tensão levou a novos embates em 1998, que terminaram graças a um cessar-fogo patrocinado pela Rússia e pela Comunidade de Estados Independentes (CEI). A situação perdurou por dez anos sem enfrentamentos formais, com a Abkházia sendo reconhecida mundialmente como parte integrante da Geórgia.
Uma nova guerra em 2008, desta vez em pela disputa por um outro território georgiano, a Ossétia do Sul - que se declarou independente e afrontou os interesses russos no Cáucaso -, foi o pivô da declaração unilateral de independência da Abkházia, o término do cessar-fogo de 1998 e, finalmente, o reconhecimento do território como país por cinco outros estados: Rússia, Venezuela, Nicarágua, Nauru e Vanuatu. A ONU e os demais países do mundo continuam considerando a Abkházia como parte integral da Geórgia.
Com uma população etnicamente diferente dos georgianos e ligada aos povos do Cáucaso russo, os abkházios dependem atualmente da Rússia para sua sobrevivência - o único acesso ao exterior é via Rússia -, já que não há aeroportos no território. Como os passaportes abkházios não são reconhecidos no resto do mundo, a Rússia emite o documento para os cidadãos locais, a moeda corrente é o rublo russo e o território usa o mesmo prefixo telefônico internacional do poderoso e gigantesco vizinho.
Ainda assim, os abkházios mantêm vivas língua, tradições, culinária e hábitos únicos. O povo é hospitaleiro e acostumado a lidar com estrangeiros - fruto dos anos da URSS, quando a Abkházia era considerada a riviera do Cáucaso. Paisagens montanhosas, belas praias com clima e vegetação subtropicais são os exóticos atrativos do território. Os prédios grandiosos das décadas de 60 e 70, praticamente abandonados, dão mostra do passado dourado do local. A sensação de se caminhar pelas ruas da Abkházia é de se ter voltado meio século ao passado. Os grandes bulevares com palmeiras estão quase sempre desertos - resultado ainda do grande número de pessoas que fugiu do território durante as guerras.
As marcas dos tempos de glória e do abandono também convivem com fachadas marcadas por balas e bombas, que a população, amplamente secular, mas dividida entre cristãos ortodoxos e muçulmanos, parece simplesmente ignorar em sua tarefa cotidiana de construir um país.

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