A passagem da presidente argentina e candidata à reeleição, Cristina Kirchner, por Brasília marcou um curioso lance da diplomacia política brasileira, patrocinado pelo ex-presidente Lula. Pós-doutorado no jogo eleitoral, Lula farejou de longe a possibilidade de fazer um favor à viúva de Nestor Kirchner e de tornar-se, juntamente com Dilma, credor da governante que tantos problemas cria para o comércio externo brasileiro.
Cristina Kirchner vai às urnas em 23 de outubro contra, por enquanto, sete adversários. Não é exagero dizer que aparecer diante das câmeras como estadista com bom trânsito com Lula e Dilma aumenta consideravelmente seu capital eleitoral. Lula é considerado um mito entre boa parcela dos argentinos. E Dilma, sua sucessora, uma mulher digna de crédito, no comando da maior economia do continente.
Em nome da conveniência político-eleitoral, tanto Cristina Kirchner quanto Dilma deixaram de lado as mais graves pendengas comerciais, como a inacreditável lista de produtos brasileiros barrados pelas regras argentinas para a importação, cujo custo é estimado em um bilhão de dólares para o lado brasileiro. Até lançaram um Conselho Empresarial para afastar da esfera política a solução destes problemas - iniciativa, aliás, de eficiência duvidosa.
O importante nesta sexta para ambos os lados era mostrar união. Não por acaso, Lula esperou pacientemente por mais de quarenta minutos pelo início da inauguração do novo e faraônico edifício da embaixada da Argentina em Brasília. Estava ali para cumprir uma missão. No discurso, prometeu que Dilma e Cristina Kirchner governariam melhor que ele próprio e que Nestor Kirchner. As homenagens de Lula ao presidente argentino falecido no ano passado quase levaram às lágrimas a viúva candidata, estrategicamente vestida de preto. Tudo com transmissão ao vivo direto para a Argentina.
Consciente da importância do registro da imagem para a candidata, Lula promoveu diante dos fotógrafos a pose típica de campanha: ele mesmo ao centro, segurando simultaneamente as mãos de Dilma e de Cristina Kirchner - como padrinho da união entre as duas governantes. Mais tarde, perguntado pela televisão da campanha eleitoral da presidente argentina, Lula respondeu, brincando, que, se pudesse, tranferiria seu título de eleitor para o país, para poder votar em Cristina Kirchner - uma declaração de voto que conta pontos por lá.
Uma vez reeleita Cristina Kirchner, o Brasil espera contar com uma governante bem mais dócil do que a que comanda hoje a Argentina. Mas também sabe que esta pode ser uma dívida sem garantia de pagamento.
http://noticias.r7.com/blogs/christina-lemos/2011/07/30/lula-e-dilma-viram-cabos-eleitorais-de-cristina-kirchner/
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