domingo, 6 de novembro de 2011

A NAU DOS IRRESPONSÁVEIS

Ralph J. Hofmann

Vinte e poucos anos atrás a empresa em que eu trabalhava sofreu uma greve súbita e surpreendente. A empresa fizera propostas iniciais, sujeitas a negociações, foi convocada uma assembléia geral do sindicato para exame das propostas e subitamente, sem mais nem menos, um dirigente do sindicato pediu que por aclamação fosse decidido entrar em greve. Isto foi num sábado.
Na segunda-feira quando eu me dirigia à empresa foi impossível chegar do carro ao estacionamento. Nem a pé. A direção e gerências não conseguiam acesso. Pior, numa empresa em que o relacionamento entre diretores, gerentes e empregados sempre fora boa havia um clima de violência.
Eu tinha um trabalho a executar em torno de um processo no Departamento de Comércio dos Estados Unidos em Washington, trabalho essencial para garantir acesso àquele mercado por mais alguns anos.
Por alguma intuição eu levara cópias e fitas magnéticas de todo o processo para casa na sexta-feira.
A empresa mantinha salas no centro da cidade para onde me dirigi. Minha secretaria se reuniu comigo lá e posteriormente passamos a trabalhar no andar de baixo nos escritórios de um banco de fomento estatal onde eu conseguiria completar a defesa que deveria ser apresentada em fita magnética na próxima segunda-feira em Washington.
Houve um momento em que circulou entre a multidão reunida frente à fábrica, um jornaleco. Citando meu nome, dizia que eu estaria no banco de fomento negociando empréstimos para garantir fôlego à empresa para sustentar a greve. Ninguém quis ouvir que eu meramente estava defendendo um mercado anual de mihões de dólares para a empresa, o que garantiria vendas e empregos.
Ao contrário. Tínhamos containeres de mercadorias no porto próximo aguardando a chegada de navio. Elementos do sindicato foram ao porto exigir que os portuários não carregassem nossa mercadoria nos navios, aliás, no que foram rejeitados pelos portuários que sabiam que muitas vezes havíamos conseguido trazer mais navios para o porto, ou seja, mais trabalho para eles.
No fim a greve terminou em uma semana, os operários receberam um pouco menos do que a empresa presumira que iria oferecer depois de negociações pacíficas, os oper;arios pagaram um dia de salário a mais ao sindicato a título de remuneração pelas negociações desnecessariamente litigiosas e eu consegui enviar a Washington as fitas magnéticas no prazo.
Mas houve incidentes violentos. Funcionários que deviam zelar para que não se degradassem certos equipamentos tiveram de ser infiltrados na propriedade da empresa atravessando um mangue, automóveis de diretores de uma empresa do grupo em que o sindicato era outro tiveram seus carros amassados a pedradas e marretadas.
O sindicato local perdera con trole. Havia agitadores vindos a Santa Catarina desde o ABC insuflando ânimos. Foi atípico para o nosso ambiente de trabalho. Nunca houvera algo assim antes nem houve mais nada parecido nestes vinte e poucos anos.
Tudo isto me traz aos movimentos Occupy nos Estados Unidos.
O que começou como um movimento idiota que só faz sentido para inteligências limítrofes está virando um desastre.
Estão se formando enclaves favelizados no centro de cidades, em que a polícia não pode manter a paz. As autoridades inicialmente não quiseram interferir para não correrem o risco de serem acusadas de refrear o direito de expressão. Nestes enclave não existe higiene, e há incidentes criminosos de espancamentos e estupros. Estão sendo infringidos os direitos de proprietários de negócios, não dos bancos e corretoras, mas dos donos de pizzarias e cafés normalmente freqüentados por pessoas que trabalham na região. O governo Obama, de uma forma geral populista inicialmente apoiou o movimento. Agora há uma escalada de violência generalizada. O movimento não sabe o que pedir, apenas é contra alguma coisa que não sabe o que é. Talvez contra a inevitável necessidade de trabalhar dia após dia e o tédio engendrado por isto. A maior parte dos entrevistados diz que tem emprego, que ganha bem, mas diz que os “tubarões” estão tirando algo deles. Um pacote explosivo.
Esta semana repetiu-se o que e vivenciei nos anos 80 durante a greve na empresa em que trabalhava. Occupy Oakland tentou paralisar o Porto de Oakland. Isto num momento em que toda a movimentação econômica nos Estado Unidos é importante. Foram rechaçados pelos operários do porto.
Outras atividades econômicas têm sido visadas.
Não é um movimento a favor de nada. É contra tudo. Uma “Nau dos Irresponsáveis”. Uma grande turba acéfala.

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