Ralph J. Hofmann
Muitos anos atrás eu tive uma relação de amizade bastante agradável com missionários mórmons que entre outras coisas costumavam passar em casa para pedir emprestados livros em inglês.
À época fiquei sabendo que os mórmons costumam fazer pesquisas genealógicas para identificar seus antepassados e receber o batismo na igreja mórmon por procuração, para que na outra vida seus antepassados fossem aceitáveis (no paraíso mórmon?).
Não ponderei nada a respeito. Eram amigos e tinham direito a acreditar no que quisessem desde que não exigissem que eu acreditasse na mesma coisa.
O interessante é que poucos falavam no antepassado escocês enforcado por ser ladrão de gado. Os genealogistas deles achavam sempre um elo com algum rei ou herói famoso. Aparentemente o número de pessoas que foram batizadas por procuração auto-concedida como descendentes de Henrique VIII da Inglaterra é enorme. Este rei deve ter sido o pai de sua pátria. Deve ter deixado filhos bastardos nos quatro cantos da Inglaterra, Cornualha e País de Gales.
Há quatro anos atrás o Instituto Simon Wiesenthal (*) descobriu que os mórmons haviam batizado os pais de Wiesenthal. Mas não só isto. Haviam batizado Anne Frank (a menina que morreu em campo de concentração e nunca teve descendência).
Depois Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto, escritor, cronista do Holocausto descobriu que seus antepassados também haviam sido batizados.
Naturalmente este é o problema de quando alguém se auto-denomina procurador. Como não se trata de direitos materiais é difícil dizer em que os direitos das famílias estão sendo feridos. Mas ainda assim, é um insulto à memória.
Lembro-me que nos anos em que freqüentei escolas católicas me perguntavam se eu não ficava nem um pouquinho tocado pela mensagem deles.
Eu sempre respondi que poderia ter muito a criticar no raciocínio religioso deles, mas me limitaria a dizer que eu sou neto de pessoas que morreram assassinadas ao ostentar uma estrela amarela. E jamais consideraria a possibilidade de desrespeitar aos meus avós e os avós de meus avos ( ovos avoseinos ).
Portanto o corolário disto é que apropriar-se da personalidade de uma pessoa morta e batizá-la retroativamente é um ato que vai desde o ridículo ao insultuoso. Anne Frank não foi consultada. Certamente se Wiesenthal fosse consultado mandaria tomar naquele lugar e Elie Wiesel está reclamando.
Parece uma reedição do “batismo em pé” dos judeus de Portugal. Reunidos num espaço amplo foram aspergidos com água benta e declarados cristão. Nos séculos seguintes foram perseguidos por apostasia pelo Santo Ofício porque em seus lares seguiam com os costumes religiosos de sua fé judia.
Só se pode ser apostata se sua conversão tiver sido feita com ampla concordância
Há quatro anos atrás as autoridades eclesiásticas mórmons de Salt Lake City, Utah ( centro da Igreja dos Santos dos Últimos Dias – Mórmon) prometeu reverter essas conversões de figuras do Holocausto. Contudo episcopados em diferentes lugares no mundo acabam sigilosamente seguindo com estes costumes.
Interessantemente duas outras pessoas batizadas pelas igrejas mórmons são:
Adolf Hitler e Vlad O Empalador (o Drácula original). Se descobrirem um dia quem foi Jack o Estripador alguém dirá que é seu descendente.
(*) Simon Wiesenthal, fundados do Centro de Documentação do Holocausto em Viena, o “Caçador de Nazistas”.
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