quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Soldado afegão mata militares da Otan em meio a violentos protestos
Um soldado afegão matou a tiros dois soldados da Otan nesta quinta-feira, enquanto violentos protestos contra os Estados Unidos após a queima de exemplares do Alcorão varriam o país pelo terceiro dia consecutivo.
Bases da França, Noruega e dos Estados Unidos também foram atacadas por manifestantes, com um saldo de três mortos, elevando o número de vítimas fatais nos dois últimos dias a 12 pessoas, afirmaram autoridades.
Os ataques aconteceram depois que os talibãs convocaram os afegãos a matar as tropas estrangeiras para vingar a queima de exemplares do Alcorão em uma base administrada pelos Estados Unidos.
O Afeganistão é um país profundamente religioso, onde ofensas contra o Islã provocam frequentemente violentos protestos, e muitos afegãos se irritaram com a descoberta de exemplares do Alcorão queimados na base aérea de Bagram, ao norte de Cabul.
A Força Internacional de Assistência à Segurança da Otan (Isaf), comandada pelos Estados Unidos, afirmou que dois de seus membros foram mortos no leste do Afeganistão por um "indivíduo que vestia o uniforme do Exército Nacional Afegão" que apontou sua arma contra as tropas.
A Isaf não identificou as nacionalidades das vítimas ou forneceu mais detalhes. Quando perguntada se o ataque estava relacionado aos protestos antiamericanos, um porta-voz da Isaf afirmou apenas: "Havia um protesto na província".
Tropas afegãs defendendo uma base estrangeira na província de Nangarhar, no nordeste do país, "se uniram às manifestações e abriram fogo contra tropas estrangeiras", disse a agência de notícias Afghan Islamic Press citando um manifestante.
Em Mihtarlam, a capital da província de Laghman, no leste de Cabul, milhares sitiaram o imóvel da PRT (equipes de reconstrução da Otan, integradas por civis e militares), lançando pedras e escalando as paredes externas, disse a polícia.
"Pessoas vieram de toda Laghman. Elas atacaram o PRT, subiram nas paredes, incendiaram algo lá, eu penso que era um contêiner", disse o oficial de polícia Khalilul Rahman Niazi à AFP.
Niazi disse que acreditava que duas pessoas foram feridas por homens armados da base enquanto tentavam subir as paredes e lançar pedras sob uma densa fumaça negra.
Cerca de 2 mil manifestantes também tentaram marchar à base francesa em Kapisa, no leste de Cabul, mas foram impedidas por forças de segurança afegãs, informou o chefe da polícia regional, o general Abdul Hameed Erken, à AFP.
"Dois manifestantes foram levemente feridos depois que as forças abriram fogo contra elas", disse.
E na província norte de Faryab, ocorreu uma tentativa de marchar em direção a uma base militar norueguesa, disse o chefe de polícia Abdul Kahleq Aqsayee.
"Um grupo de cerca de 100 adolescentes marchou em direção à base das forças norueguesas nos arredores da cidade, arremessando pedras e incendiando veículos. Eles foram dispersados quando a polícia interveio", disse. O presidente afegão, Hamid Karzai, convocou na quarta-feira a calma num momento em que o incidente é investigado, e ordenou que suas forças de segurança evitem a violência e protejam a vida e as propriedades das pessoas.
Mas os talibãs, que lideram uma insurgência de 10 anos contra o governo de Karzai, buscaram nesta quinta-feira explorar o sentimento antiamericano.
"Para defender o livro sagrado devem atacar corajosamente as bases militares dos invasores, seus comboios militares, matá-los, capturá-los, atingi-los e ensinar a eles uma lição, para que não ousem nunca mais insultar o sagrado Alcorão", disse em um comunicado.
O movimento islamita foi derrubado na invasão liderada pelos Estados Unidos em 2011. A Otan tem cerca de 130 mil soldados, a maior parte composta por americanos, apoiando o governo de Karzai. O presidente americano, Barack Obama, se desculpou nesta quinta-feira pelo incidente, em uma carta enviada ao presidente afegão.
"Desejo transmitir minhas sinceras desculpas pelos incidentes ocorridos. Transmito a você, assim como ao povo afegão, minhas sinceras desculpas", disse Obama.
Oficiais americanos também se desculparam repetidamente pela queima dos exemplares do Alcorão.
O porta-voz da Otan, o brigadeiro general Carsten Jacobson, afirmou que era "provavelmente um ato de ignorância", mas "um erro com graves consequências".
Oficiais americanos falando em condição de anonimato afirmaram à AFP que os militares removeram os exemplares do livro sagrado de uma prisão de Bagram porque os detidos estavam supostamente utilizando o Alcorão para passar mensagens uns aos outros.
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