BRASÍLIA - Numa jogada considerada arriscada, a presidente Dilma Rousseff resolveu nesta segunda-feira bater de frente com o grupo do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do presidente do Senado, José Sarney (AP), e pôs fim à longa permanência de Romero Jucá (PMDB-RR) no poder. Após a derrota imposta por Renan e o PMDB - com a rejeição de Bernardo Figueiredo para a diretoria geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) -, Dilma tirou Jucá da liderança do governo no Senado e, em seu lugar, indicou o maior adversário do grupo renanzista: o senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
Braga, ex-governador do Amazonas, lidera o chamado Grupo dos Oito (G-8), crítico do grupo Renan/Sarney, e poderá se cacifar para disputar com Renan a presidência do Senado.
A mexida não deve parar por aí. Fontes do governo informam que nesta terça-feira pode cair também o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que vem colecionando episódios de insatisfação no Planalto nos últimos meses. O nome mais cotado é do ex-líder do PT Paulo Teixeira (SP). O deputado José Guimarães (PT-CE), envolvido no escândalo dos dólares na cueca, também está no páreo.
A “era Jucá” começou em 1986, quando o então presidente da República, José Sarney, o nomeou presidente da Funai e, dois anos depois, governador de Roraima. No governo de Fernando Collor, não teve cargos. Mas no governo de Itamar Franco foi diretor-geral da Conab e secretário nacional de Habitação. Em 1994, foi eleito senador pelo PSDB de Roraima. Ocupava o papel de líder do governo desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Para o governo Lula foi um pulo.
Escândalo com irmão Jucazinho na Conab
Jucá foi para o PMDB em 2003, logo após a eleição de Lula, que o nomeou ministro da Previdência em 2005; no ano seguinte, tornou-se líder do governo petista e foi mantido por Dilma.
No governo Dilma, Jucá resistiu ao escândalo do irmão Oscar Jucá, o Jucazinho, demitido ano passado do cargo de diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sob suspeita de desvio de verba pública. Mas cai com o tiro fatal imposto pela derrota a Figueiredo.
A saída de Jucá começou a ser costurada no Planalto no mesmo dia em que o PMDB imprimiu a derrota a Dilma no Senado. Braga esteve na última sexta-feira com a presidente, de quem recebeu o convite para assumir a tarefa de líder do governo. A presidente ficou extremamente ressentida com o revés que sofreu na semana passada, seu primeiro insucesso pessoal no Senado. A rejeição do nome de seu escolhido para a ANTT ocorreu paralelamente à rebelião da base governista, liderada pelo PMDB. Braga terá a missão de reunificar o partido em torno do governo.
No dia seguinte à rejeição de Figueiredo, o senador Lindbergh Farias(PT-RJ) bateu boca com Jucá e o acusou de saber, antecipadamente, da articulação do PMDB para derrotar Dilma e nada fazer. Nesse dia, Lindbergh disse que Jucá deveria pedir para deixar a liderança.
Dilma reagiu à articulação do PMDB do Senado com xingamentos, dirigidos principalmente a Renan. Integrante do chamado G-8, senadores que já votaram contra o governo, Braga é o maior opositor ao grupo Renan/José Sarney no PMDB.
"Quem mais bate no grupo de Renan e Sarney hoje no PMDB é Eduardo Braga. Com sua nomeação para líder, ele se cacifa como adversário de Renan, com o apoio do Planalto, para disputar com Renan a presidência do Senado. Dilma mata dois coelhos: vinga-se de Renan e agrada ao PT, que, desde a semana passada, vem pedindo a cabeça de Jucá", disse um cacique peemedebista.
Após fazer o convite a Braga, Dilma avisou Renan sobre sua decisão, nesta segunda-feira, durante o almoço. Segundo integrantes do PMDB, Dilma disse a Renan que queria fazer um rodízio nos cargos de líder do governo no Senado e na Câmara. Ela também comunicou sua insatisfação ao vice-presidente Michel Temer. Parte do PMDB ficou irritada, e disse que Braga, no voto secreto, também foi contra a permanência de Figueiredo na ANTT, mesmo dizendo que votou a favor.
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