Caros amigos
Tenho lido alguns textos criticando de forma exacerbada as respostas e posições expostas pelo Gen Adhemar da Costa Machado Filho, Comandante Militar do Sudeste, em recente palestra no Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (IPCO)
Segundo a reportagem de Roldão Arruda, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, de 17 de março, havia expectativa na platéia de que o General comentasse a respeito de dois temas: as “tensões” entre o governo e os militares da reserva e a suposição de que haveria identidade de pensamento da autoridade militar com o conservadorismo da instituição anfitriã.
Não posso afirmar que o repórter tenha identificado corretamente a expectativa da platéia, mas seria lógico imaginar que o tema fosse abordado no período dos debates. As respostas do Gen Adhemar atestam que ele estava preparado para esta abordagem.
Em primeiro lugar, percebo no texto, desta e de outras reportagens semelhantes, a tentativa de transformar em ameaça ao estado de direito o exercício do direito legal, democrático e natural do segmento militar da sociedade de expressar sua opinião sobre um assunto que é do seu interesse, ou seja, qualquer manifestação, sendo de militares, não pode ter as cores da democracia, fazendo crer que esta é para todos, menos para eles!
Assim, a “expectativa” sentida pelo repórter demonstra, antes de mais nada, que ele próprio é um sectário, um faccioso que nega aos militares os direitos que eles asseguraram a todos os brasileiros a partir de 31 de março de 1964. Desde quando a manifestação pacífica de opiniões pode ser motivo para “tensões” entre militares e governo? Trata-se, logicamente, da prática do crime de discriminação!
A segunda suposição do repórter, de que o Comandante Militar do Sudeste pudesse estar, de alguma forma, identificado com o “ultraconservadorismo” do IPCO, é outro absurdo, pois uma autoridade militar só se identifica com a Pátria, seu partido é o Brasil!
O bom humor, a comunicabilidade, o preparo, a cultura e o profissionalismo do Gen Adhemar lhe permitiram transmitir à assistência a verdadeira dimensão do que o articulista chamou de “agitação da reserva”, que, se repercussão teve, foi nas fileiras do totalitarismo, este sim, extremamente sensível a qualquer demonstração ou exercício organizado e pacífico de direitos democráticos. Neste caso, nas fileiras do Exército, as autoridades, com certeza, estão a administrar o mal estar dos que ainda não entendem (ou aceitam) que vivemos em um país livre e democrático.
Ainda há muito a ensinar a essa gente!
As queixas dos Soldados, colocadas pelo Gen Adhemar, referem-se, com muita razão, à negligência do Governo para com suas obrigações de estado. A falta e a obsolescência de meios para a defesa da Pátria devem-se unicamente à irresponsabilidade e à visão sectária e ideológica dos governos da chamada “Nova República”, ao que não foge o atual que, como disse o General, é lento na liberação de recursos, embora seja, como sabemos, pródigo em promessas, planos e projetos. Por que será?
Considero justa a preocupação de quem afirmou ao General que a “senda nefasta” que temos trilhado pode nos conduzir à ditadura da qual nos livramos em 1964. Isto é absolutamente correto, pois as pessoas que hoje comandam o governo ainda não negaram seus anseios do passado, o que é, sem dúvida uma ameaça!
Cumpre interpretar positivamente a resposta do palestrante. “O Brasil mudou”, mas mudou porque lhe foi assegurada a liberdade e a democracia e, enquanto elas forem respeitadas, não haverá necessidade de intervenção. Como em 64, a opinião pública e o clamor da Nação é que dirão se o anseio de “nunca mais voltar” terá que ser frustrado.
O General referiu-se muito bem ao papel do Exército como instrumento do Estado a serviço do governo eleito democraticamente. Aí está implícita a mensagem de que o compromisso da Força é com o Estado, de quem é instrumento, e que estará a serviço do governo enquanto este for democraticamente eleito, isto é, enquanto respeitar os interesses do Estado brasileiro.
Ao dizer, "Nós olhamos para o futuro. Não olhamos pelo espelho retrovisor", o Gen Adhemar, fiel aos princípios e valores do Exército de Sempre e ao legado da tradição de família que sempre soube honrar, elegantemente, chamou de retrógrados a todos os que querem fazer da Comissão da Verdade um cadafalso para o justiçamento moral dos que expuseram suas vidas em defesa do que hoje lhe permite ansiar por “nunca mais voltar”.
É o que penso!
PChagas
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