segunda-feira, 30 de abril de 2012

O CORAÇÃO DA ÁSIA

Ralph J. Hofmann

Eu ainda era pré-adolescente quando me caiu nas mão um pequeno livro “Heart of Asia” (O Coração da Ásia) de Roy Chapman Andrews.

Roy Chapman Andrews fora para a China após a primeira guerra mundial procurar evidências de que a Ásia era o berço do homem. Em lugar disto descobriu um enorme número de ossadas pré-históricas inclusive o primeiro ninho cheio de ovos de um animal extinto, especificamente do que veio a ser conhecido como o “Velociraptor”.

Posteriormente em inúmeras expedições dos anos 20 e 30 explorou com sucesso o deserto do Gobi à procura de fósseis. Teve muitas vivências interessantes, algumas delas assustadoras numa China em que chefes de bandidos se denominavam generais e passavam a dominar uma região qualquer. Chapman chegava na região portando vistos com direitos de passagem asseguradas por um general ou o governo mas descobria que algum outro general agora comandava a região.

Numa ocasião o general do momento viu que ele era doutor (em antropologia) e exigiu que tratasse seus feridos em combate. Não havendo como recusar ele tratou os que podia. Uma vez chegou a esterilizar uma tampa de lata de sardinha para fazer uma placa para proteger um ferimento que deixara um combatente com o cérebro exposto. Por sorte até a expedição seguir viagem o homem da lata ainda estava vivo e andando.

Noutra ocasião chegando num local os membros da expedição foram rodeados por soldados e encostados no paredão. O pelotão de fuzilamento já ia atirar quando alguém com mais autoridade chegou e deu uma contra-ordem (Confesso que esta passagem me causou uma semana de pesadelos. Chapman descreve vivamente como já estava olhando para os orifícios de saídas das balas dos fuzis quando foi salvo.).

Mas a história/conto que dá o nome ao livro é de um general mongol (um destes meio generais / meio bandidos) que ocupa uma cidade e faz dela seu QG ao longo dos anos. A população da cidade inicialmente hostil com o tempo percebe que é bom ser protegido por um líder poderoso. Outros bandidos que queiram assaltar a cidade ao sabor das guerras sempre serão castigados pelo general que trata o povo com justiça.

Um dia a cidade é tomada por inimigos do general. Estes se ocultam sob os muros da cidade para tocaiar o general no seu retorno. A coluna do general se aproxima da cidade quando o povo ataca o inimigo com ferramentas e pedras assim alertando o general que derrota seus inimigos.

O general sabe que sempre foi apenas mais um conquistador da cidade, contudo a lealdade do povo o emociona. Dentro de algum tempo dá uma grande festa para todos. No ponto alto da festa levanta e vai à cozinha e traz um pote e pede que todos comam um pedacinho do prato que fez com as próprias mão. Depois diz: “Os senhores me deram uma prova de incrível lealdade. Eu estou muito emocionado pois nunca vi algo igual, afinal viemos como ocupantes. Por isto só me resta agradecê-los de uma forma sublime. Este prato que compartilhamos simboliza meu apreço. São os corações de minha amada esposa e minha única filha que compartilhei com vocês.”

Ao me recordar desta história lembrei de uma passagem romanceada da vida do bandido e revolucionário cossaco do Don, Stefan (Stenka) Razin, que no século dezessete roubava, saqueava e cometia atos de pirataria por um lado e atos de generosidade de um Robin Hood por outro. Agia ao longo dos rios Volga, Don e do Mar Cáspio. Um dia, num navio descendo o Volga alguns de seus homens o acusaram de falta de lealdade para com eles. Stenka Razin levanta vai ara a cabine do navio, traz sua linda esposa persa e diz: “Provarei que por vocês abro mão do que me é mais caro”; e joga a esposa nas águas revoltas do Volga.

Essencialmente a mesma história, só que em lugar de mongóis trata de cossacos.

Tomei conhecimento desta história de Stenka Razin graças ao Google. Aos 18 anos amigos acharam que eu seria a pessoa para prever que questões poderiam cair nas provas de conhecimento geral do vestibular e especialmente de alguns que queriam fazer a prova para o Instituto Rio Branco. Meu pagamento seria em discos LP. Um destes discos era “Canções com o Coro dos Cossacos do Don” disco que cheguei a gastar pelo uso. Uma das minhas músicas favoritas era chamada “Stenka Razin”.

Alguns anos depois o conjunto australiano “The Seekers” gravou “The Carnival is Over” com a mesma música mas letra que não dizia respeito a Stenka Razin. Um ano atrás ouvindo a música dos “Seekers” tive a curiosidade de procurar no Google informação sobre Stenka Razin. Assim descobri a lenda e agora recordando o livro vi ser igual entre mongóis e cossacos russos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário