segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ódio na Europa

Osias Wurman

Mais um ato de extrema violência e ódio fundamentalista que atingiu a comunidade judaica, desta vez em solo francês. Ensinam os sábios do judaísmo que “cada judeu é responsável, um pelo outro”.

Assassinar um rabi e três crianças inocentes é uma violação que nos atinge como judeus e como seres humanos, em qualquer lugar e em qualquer época.

O ódio antijudaico na Europa vem crescendo assustadoramente.

É incrível o nível de franceses, filhos da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que confessam guardar sentimentos antissemitas em nossos dias: 24% da população, segundo as pesquisas de opinião. E a França não lidera o ranking do ódio na Europa.

O recente “espasmo poético” do escritor alemão Gunter Grass é prova do preconceito enraizado neste ex-SS de Hitler.

O conflito no Oriente Médio é a maquiagem que os racistas usam para encobrir seus sentimentos antijudaicos, agora travestidos de antisionismo.

No caso da França, um país com 60 milhões de habitantes, a população judaica é de cerca de 600 mil, e a muçulmana de 6 milhões de pessoas.

Na periferia de Paris, como exemplo, o desemprego entre os jovens franceses de origem muçulmana chega a 35%. E os franceses não se animam a empregá-los em suas empresas. Não gostam, definitivamente, dos jovens islâmicos. Provocações, ataques nas ruas, e até assassinatos, não são coisa do passado, como no governo colaboracionista de Vichy.

O banho de sangue em território francês mobilizou a imprensa mundial e os governantes do país. O presidente Sarkosy demonstrou repudio ao crime e empenho na busca dos responsáveis. Há poucos dias, foi desbaratada na França uma rede com cerca de vinte supostos terroristas.

Muitos erros estratégicos foram cometidos no trato com o caso específico do assassino de Toulouse, de acordo com analise de especialistas em terrorismo do Centro de Estudos Antiterror em Herzliah-Israel.

Mohamed Mehad estava sendo monitorado pela inteligência francesa após sua viagem ao Afganistão para treinamento terrorista. Por que deixaram este potencial assassino andar livre pelas ruas? Se foi para seguir-lhe os passos dentro da França, pagou-se um preço muito alto, com a perda de sete vidas inocentes, sem qualquer retorno prático.

Por que levaram tantas horas para invadir o apartamento do criminoso se não havia reféns em seu poder? Se foi para tentar prende-lo com vida, a única coisa prática que teriam seria outro seqüestro, em alguma parte do mundo, com seus colegas da al-Qaeda pedindo o resgate de Mehad.

Por que forneceram um celular ao criminoso, em troca de uma pistola, sabendo que ele estava armado até os dentes e era portador de explosivos? Se foi para rastrear suas ligações telefonicas, o tiro saiu pela culatra pois Mehad ligou para os jornais e fez sua propaganda sórdida e enganosa.

Fica para a História um episódio odioso que rebaixa o gênero humano, mancha a imagem da sociedade francesa e provoca lágrimas em todos.

Osias Wurman é cônsul honorário de Israel no Rio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário