PF aponta repasses da Delta para empresas fantasmas do bicheiro. A CPI mista que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários decidiu adiar a sessão administrativa para votar a quebra o sigilo das contas nacionais da construtora Delta e a convocação de governadores supostamente ligados ao esquema de Cachoeira. A sessão ficou para a próxima terça-feira (29).
O requerimento que pedia a votação dos requerimentos nesta quinta-feira, de autoria do senador Pedro Taques (PDT-MT), foi rejeitado após acordo entre os líderes partidários. Taques, líder do PDT, e o deputado Silvio Costa (PTB-PE) negaram ter participado do acordo.
"Eu estou estarrecido. Há um acordo em que eu não participei", disse Costa.
As investigações da Polícia Federal mostram que a Alberto & Pantoja Construções recebeu da Delta nacional R$ 26 milhões. A empresa funcionaria numa oficina mecânica, numa cidade perto de Brasília. Os parlamentares cobram a quebra de sigilo da empresa em razão de evidências de que a empresa tenha repassado milhões a empresas de fachada que abasteceram a quadrilha de Cachoeira.
Na conta da Brava Contruções, que, segundo a polícia, também é uma empresa de fachada que serve ao esquema de Carlinhos Cachoeira, a Delta nacional depositou pouco mais de R$ 13 milhões.
A quebra de sigilo da Delta no Centro-Oeste já foi aprovada pelos parlamentares.
Governadores
A votação da convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), também ficou adiada para a próxima terça-feira.
De acordo com investigações da Operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira em fevereiro, auxiliares dos governadores de Perillo e Agnelo são citados em conversas telefônicas com integrantes da quadrilha do contraventor.
Já o governador do Rio, Sérgio Cabral, aparece em fotos ao lado do ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, durante uma viagem a Paris. Segundo investigações da Polícia Federal, a Delta, uma das empresas com mais contratos com o governo federal, repassou dinheiro para empresas fantasmas que abasteciam o grupo de Cachoeira.
Depoimentos
A discussão sobre transformar a sessão de depoimentos em reunião administrativa ocorreu após terem sido suspensos os depoimentos do sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e o sargento da Polícia MIlitar do Distrito Federal Jairo Martins de Souza, apontados como auxiliares do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Eles se recusaram a falar à CPI e foram dispensados pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Nos depoimentos da comissão, os depoentes têm o direito de permanecer em silêncio,como fez o contraventor Carlinhos Cachoeira, em depoimento na última terça.
A sessão da CPI começou por volta das 10h30 com o depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez, que leu um depoimento no qual negou influência no governo de Goiás e depois for interrogado por parlamentares por cerca de uma hora e meia.
Depois, por volta de 12h15, Dadá foi chamado à sala da comissão e dispensado minutos depois após afirmar que não daria esclarecimentos. A sessão chegou a ser suspensa e retomada logo em seguida para o depoimento de Jairo de Souza, que foi dipensado também. Os parlamentares começaram então a discutir se transformam a sessão em reunião administrativa para votação de requerimentos.
Antes do depoimento, o advogado Leonardo Gagno, que representa Dadá e Jairo, já havia afirmado que ambos permaneceriam calados. Diante do anúncio feito pelo advogado, antes de Dadá começar a falar, os parlamentares concordaram em suspender os depoimentos caso os dois se recusassem a responder.
"Temos de mostrar aqui que não estamos num teatro de marionetes", disse o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR).
Wladimir Garcez
Em depoimento, o ex-vereador de Goiânia (GO) pelo PSDB Wladimir Garcez, tido como um dos principais auxiliares do contraventor, negou durante depoimento que "integre qualquer organização criminosa".
À CPI, Garcez leu um depoimento e afirmou que foi contratado pela empresa Delta Construções para assessorar o ex-diretor da empresa no Centro Oeste Cláudio Abreu - que foi preso no mês passado - e negou qualquer influência no governo de Goiás. Após a leitura do texto, Wladimir Garcez se recusou a responder às demais perguntas dos parlamentares.
Garcez foi o primeiro depoente a falar para os parlamentares que integram a comissão, criada para apurar as ligações do bicheiro com agentes públicos e privados. Na terça, o bicheiro Carlinhos Cachoeira ficou calado durante seu depoimento.
Segundo o ex-vereador, sua missão como contratado da Delta era assessorar Cláudio Abreu, e que pelo trabalho “ganhava R$ 20 mil”. “Nunca participei de qualquer processo licitatório”, afirmou. Ele também disse que auxiliou Cachoeira em uma empresa do contraventor.
Questionamento ao relator
Durante a sessão, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) acusou o relator da CPI de ter direcionado as perguntas feitas a Garcez, não respondidas, para prejudicar o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Segundo Sampaio, Odair Cunha agiu como representante do governo federal ao fazer predominantemente indagações sobre a relação de Garcez e do bicheiro com Perillo.
“Está muito claro o direcionamento que está havendo aqui hoje. Eu podia pedir a palavra e fazer 30 perguntas sobre o envolvimento do governador Agnelo Queiroz”, disse Claudio Sampaio. “Não passe a imagem à opinião pública de que está fazendo um papel de governo. Vossa Excelência é um magistrado”, complementou o tucano, dizendo que todos os integrantes da CPI devem se comportar com isenção, como juízes.
O relator rebateu: "Fiz as perguntas que achei pertinentes. Se ele [Garcez] pertence aos quadros do PSDB não é minha responsabilidade."
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