Carlos Chagas
É óbvio que o ex-presidente Lula defende o seu governo, quando nega a existência do mensalão e pretende ver adiado o julgamento dos 38 réus pelo Supremo Tribunal Federal. No primeiro caso, procurando estabelecer a versão de que tudo se tratou de acertar o caixa dois de eleições passadas, jamais da distribuição de dinheiro mensal para deputados. No outro, por temer que condenações de companheiros petistas possam prejudicar seu partido nas eleições municipais de outubro. O Lula também sai em defesa de seus amigos e correligionários transformados em réus, a começar por José Dirceu.
Mas é preciso descer mais, na prospecção do lamentável episódio do encontro do ex-presidente com Gilmar Mendes. Qual a razão profunda de o Lula ter arriscado sua imagem ao sustentar a protelação do julgamento dos mensaleiros? Mais ainda, conforme versão do ministro do Supremo, o ex-presidente sugeriu a possibilidade de blindá-lo na CPI do Cachoeira, caso levantada sua ida a Berlim para confraternizar com o senador Demóstenes Torres, com passagem e estadia pagas pelo bicheiro.
A resposta pode estar nos diversos relatos do fatídico encontro no escritório do ex-ministro Nelson Jobim. No meio da conversa, o Lula teria dito que José Dirceu está “desesperado” com a possibilidade de ser condenado e até de parar na cadeia. Em pleno desespero, quem garante que o ex-chefe da Casa Civil não venha a aprofundar a afirmação feita às vésperas de sua cassação, sobre nada do que fez ter sido feito sem o conhecimento do então presidente?
Aqui mora o perigo, se o Lula estava ciente do que se passava no palácio do Planalto e se o mensalão era mesmo mensalão, nunca uma simples coleta de dinheiro para saldar dívidas com o caixa dois. Se no auge da emoção, às vésperas de ser condenado, Dirceu abrir o jogo e envolver o Lula, os 38 réus passarão a ser 39.
Quem conhece o atual consultor de empresas e ainda figura exponencial no PT sabe que ele jamais acusaria ou trairia o Lula, mas se for para livrar o pescoço, se estiver desesperado, quem garante? Pode estar nessa hipótese o gesto arriscado do ex-presidente de procurar um, mas anunciar que procuraria outros ministros da mais alta corte nacional de justiça para influenciá-los e obter deles o adiamento das suas decisões.
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