quinta-feira, 3 de maio de 2012
LIBERDADE DE ACESSO E EXPRESSÃO
Ralph J. Hofmann
Nos primeiros anos após a Revolução dos Cravos parecia que Portugal se tornaria um satélite comunista. Como qualquer país em que a livre expressão estava reprimida há décadas o remover das limitações colocou tudo que havia na sociedade em efervescência. É interessante notar que assim como a independência do Brasil que resultou de um ato da oligarquia portuguesa do poder, expressa pelo herdeiro da coroa, Dom Pedro I, o fim do salazarismo veio do próprio “establishment”, dos oficiais que haviam passado suas carreiras no Ultramar nas guerras coloniais. Até o estopim da virada veio do aristocrático General Spínola, com seu livro “Portugal e o Futuro”.
Os anos de lutas haviam mudado o perfil de grande parte das forças armadas. A perspectiva de anos e anos em combate tornara a carreira militar pouco atraente. Portanto em 1974 grande parte dos coronéis e generais de brigada portugueses não eram de famílias com tradições militares e sim jovens do povo que haviam escolhido carreiras militares como forma de avançar econômica e socialmente.
Com isto vemos durante alguns anos alas extremas, comunistas declarados dominando o país. Ouvir Otelo Saraiva discursar era como ouvir um dos líderes de países da Cortina de Ferro. Um esboço de contra-revolução acabou levando à prisão oficiais que tentaram se sublevar contra isto em 1074-75. Houve algumas mortes.
Contudo Portugal fica na Europa. Mesmo seu vizinho mais próximo, a Espanha estava lentamente se despindo de seus matizes autoritários. Culturalmente Portugal é ligada à Inglaterra, França e Alemanha. Seus socialistas históricos tinham pouco a ver com ambições soviéticas, romenas ou chinesas. Uma repressão de idéias e de acesso à informação seria inexeqüível. Rapidamente Portugal com ou sem defeitos em ternos de economia, revelou-se um país democrático, com uma salutar alternância de poder.
Isto nos leva à liberdade de informação e expressão na China nos nossos dias. A China produz e vende equipamento de acesso à internet. São celulares e computadores e equipamentos para servidores e todo o restante desses equipamentos. Na verdade não cria ou projeta nada. Projetos surgem onde há uma liberdade para experimentar e, por conseguinte, criar, o que não é o caso aqui. .
Na verdade a China, ou o seu governo tem feito o possível para cercear o fluxo de informações da Internet se ele for dirigido ao seu povo ou de seu povo para o exterior. Contudo vedar completamente seria impossível. No máximo consegue bloquear certas redes sociais. Recentemente recebi um comentário de um consultor amigo que está na China temporariamente. O amigo dizia que com as 11 horas de diferença de fuso horário os contatos eram difíceis. Na firma o e-mail não consegue acessar os sistemas de mensagem imediata que usamos. No hotel, que é para estrangeiros isto é possível, porém a diferença de fuso horário é desconfortável.
Pois o grande desafio, segundo o diz o artista e cronista Ai Weiwei em artigo no The Guardian tem sido achar a possibilidade de criar formas de burlar as barreiras ao acesso e disseminação de notícias. Ali é que reside a criatividade chinesa hoje.
É necessário considerar que a obediência ao sistema vem de muito longe. Não é criação do comunismo. Está implícita em toda a filosofia de Confúcio. E como tal não ;eva a mudanças ou criação de novas situações com rapidez.
Por outro lado é comparativamente fácil informar e ser informado para quem até poucos anos atrás examinava cuidadosamente os jornais, cem por cento produzidos pela imprensa oficial, para intuir as notícias nas entrelinhas e pelas coisas que não constavam no noticiário.
Da mesma forma que no Brasil de hoje, é impossível um jornal ocultar o que ocorre, pois as notícias irão parar na imrpensa eletrônica nanica, na China ao chegar aos jornais impressos aquela parte do povo que freqüenta a Internet já sabe a notícia, pois os blogueiros e míni-blogueiros já espalharam tudo. Portanto os jornais se obrigam a divulgar e desta forma as notícias se tornam acessíveis a todos.
É claro que o governo continua reprimindo o que pode. Neste momento uma “cause célèbre” mundial é o caso de Chen Guangchen, de Chongking, um advogado cego que foi preso durante quatro anos por obstruir o trânsito e depois foi colocado em prisão domiciliar e isolamento total e conseguiu sumir de casa. Sabe-se que está em algum lugar sob tutela da Embaixada Americana que não quer se envolver nisto e preferiria simplesmente negociar sua retirada da China e asilo. Mas Chen não quer asilo. Quer ficar na China e continuar protestando contra o pode local na sua cidade e província. Alega que o que ocorre de errado é por conta do governo local. Não do nacional.
A reação tem sido de que todos os governos locais existem por condescendência dos altos escalões do governo. Portanto, todo sistema e um só. Mas o mais interessante é que aparentemente grande parte dos chineses hoje sabe que existe um dissidente, advogado cego, etc. É muito diferente do que ocorria antes dos protestos da Praça Tian An Men.
Evidentemente com o tempo a garrafa não poderá mais ser arrolhada, a informação será normal e as mudanças políticas terão de ocorrer. A curto prazo? Não creio. Acho que é assunto para vinte anos.
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