Ralph J. Hofmann
O lançamento da Comissão da Verdade me leva a pensar um pouco sobre a natureza da violência e a necessidade de nos defendermos.
Na década de sessenta o governo, fora constituído a partir de um golpe de estado preemptivo visando neutralizar uma ameaça, num momento em que havia uma movimentação da esquerda para tomar o poder com a colaboração de boa parte do executivo inclusive do Sr. João Goulart e do seu cunhado Leonel Brizola (*) estando previsto o estabelecimento de uma “ditadura do proletariado”, fórmula que jamais contempla a existência de poderes moderadores como um legislativo eleito e um judiciário atuando em conformidade com normas constitucionais.
As esquerdas, entre as quais muitos que hoje são ministros de estado ou potentados do governo, estavam detonando bombas e atacando bancos, postos de polícia, quartéis. Não tinham a menor hesitação em explodir artefatos no meio de uma população civil. Decidiam soberanamente que este ou aquele deveria ser morto. Sua lei era sua vontade. Suas decisões vinham do líder de grupo que tivesse mais ascendência psicológica sobre os outros.
Muitos dos membros deste movimento tem prestado depoimentos nos últimos anos, explicando que jamais houve a busca de criar uma verdadeira democracia entre eles. O que havia era o objetivo de adquirir o poder. Estes depoimentos são feitos por pessoas que não tem nenhuma vantagem em se manifestar. Talvez, ao contrário, sofram sutis represálias.
Portanto, um golpe de estado, que resultara num regime que em termos do tradicional comportamento de ditaduras na América Latina era muito pouco violento viu-se sob ataque de pessoas para quem matar era extremamente fácil.
Isto naturalmente levou à indignação. “Como, eles podem atacar e matar e nós vamos ficar aqui assistindo passivamente?” E infelizmente surgiu o sentimento de que quanto mais demorassem a neutralizar os inimigos mais pessoas poderiam morrer. Havia uma sensação de insegurança até para entrar num banco e sacar dinheiro.
Sejamos francos. A situação não era uma em que as autoridades pudessem aplicar a “resistência passiva” de Gandhi. E infelizmente quando se decide que soldados e policiais tenham a missão de interrogar o inimigo com a obrigação de obter informações sempre surgirão abusos, surgirá uma certa decadência moral e um endurecimento, mesmo porque, na base, terão de ser usadas pessoas de menos sensibilidade.
Portanto, se considerarmos o que foi a “verdade” no Brasil daqueles anos temos de considerá-la dentro do cronograma dos eventos. Quem fez o que quando. O que fulano pretendia fazer. Se a comissão da verdade é uma comissão para apurar a história a seqüência é de suprema importância. Começa com a análise dos grupos dos onze e das ligas camponesas. Alegar que as esquerdas foram torturadas fora de contexto é o mesmo que dizer que “se o ladrão invadir sua relaxa e goza, pois se sacares da tua arma para defenderes o lar vais estar cometendo um crime”.
Vejam que tendo retornado ao Brasil do exílio, conquistado pelas urnas o que não conquistaram pelos movimentos subversivos dos anos 60 e 70, essas pessoas estão agindo exatamente como temíamos e prevíamos. Só não estão munidas de Kalashnikovs e metendo abaixo a pontapés nossas portas. Estão se apropriando da riqueza em proveito próprio. Enunciam projetos de bem-estar popular nos quais aplicam parcos 40% dos valores liberados. Sessenta por cento se perde nos descaminhos da manutenção dos companheiros.
E nós os saqueados nada podemos fazer. Não podemos explodir seus escritórios, garrotear seus líderes, mal e mal podemos nos manifestar pela imprensa. O governo trata de ignorar qualquer apelo à decência.
Fica bem claro que a reação do governo em fim dos anos sessenta e início dos anos setenta não pode ser condenada sem considerar o que resultou ao passar o governo às mãos de Dilma, José Dirceu e seus co-irmãos.
Portanto uma avaliação do passado ou precisa considerar tudo isto, ou deve ocorrer a portas fechadas, juntar dados que serão lacrados e colocados numa urna marcada: Não abrir antes de 2064.
(*) Que inclusive havia criado um exército de células terroristas cada uma de onze pessoas.
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