Ralph J. Hofmann
Ao comentar “O Gnomo Kern” de Giulio este domingo de páscoa a querida Luciana disse:
“Precisamos trazer à baila as fadas e as bruxas também, afinal todos fazem parte de um mesmo mundo mágico.”
De minha parte vou fazer um esforço para de vez em quando sufocar minha veia cínica e sarcástica. Afinal, fui um dos primeiros a me render aos encantos de “O Senhor dos Anéis” ainda ao tempo de meu vestibular nos anos sessenta, e vim psicologicamente preparado, tanto, pelos contos lidos em voz alta pela minha mãe antes de dormir., como depois por Monteiro Lobato e pela Editora Melhoramentos. Posteriormente, na adolescência meu mundo imaginário foi substituído pela coleção Terramarear, pelas aventuras de Robin Hood, Scaramouche, Cisne Negro e do Capitão Blood, mas a raiz plantada na infância sempre faz brotar algumas folhas verdes e alguns botões de flor. Sim, gosto de pensar que fadas gnomos e bruxas existem. Na infância do meus filhos havia uma família inteira de gnomos fazendo três turnos para esconder as cuecas, pés de meia e os lápis e canetas da família, e tinha outro que enchia o quarto da minha filha de potes de iogurte usados e copos com resíduos de refrigerante.
Mas a situação do Brasil hoje é de conto de fadas. Considerando que em inglês a palavra fada é “fairy” (do Médio Inglês ‘faerie’ ou do Francês Antigo ‘fee’) foi adotado muito antes de “gay” para descrever o pessoal da Parada do Orgulho, e que, segundo Arnaldo Jabor, temos de ir embora antes de se tornar obrigatório no Brasil, acho que as fadas já estão com mais do que bastante poder por aqui.
Quanto às bruxas, basta uma foto da ministério Dilma. Preciso dizer alguma coisa mais?
O pior é que o príncipe da Branca de Neve hoje não acordaria ela com um beijo. Desceria do cavalo, olharia para ela, desferiria uns impropérios para cima dos anões , abriria a caixa de cristal e faria uma manobra Heimlich (*) nela, assim deslocando o pedaço de maçã. Pouco romântico mas eficaz.
Gnomos, estes sempre estão conosco, em nossa lides domésticas, mas são gente fina, . Mas não, o problema são os anões. Como sabem, os anões dos contos de fada gostam muito de ouro. De alguma maneira ou outra aqui no Brasil não há nenhum anão bonzinho. São todos assessores de ministério. Uma situação dramática.
Ogros? Nem valeria a pena listá-los. Ou apenas um. José Dirceu? Já repararam como aquele jovem cabeludo de aparência idealista dos anos sessenta hoje revela seu lado real tendo uma cara de cruza entre sapo-boi e hiena?
O que precisamos achar é alguns príncipes encantados do tipo do conto “A Bela Adormecida”. Do tipo que se necessário passará dias e inteiros derrubando florestas e
sebes de espinheiros para libertar os que jazem dormindo há cem anos no interior do castelo.
Mas uma vez resgatados os que estão a perigo o melhor é mandar príncipe e princesa para a Jamaica ou para o Hawaii pelo resto de suas vidas. Salvadores costumam transformar-se em ogros após receberem o poder. Não entendem nada de administração pública.
(*)Manobra descrita pela primeira vez pelo médico Henry Heimlich, que induz uma tosse artificial, que deve expelir o objeto estranho da traquéia da vítima. Resumidamente, uma pessoa fazendo a manobra usa as mãos para fazer pressão sobre final do diafragma. Isso comprimirá os pulmões e fará pressão sobre qualquer objeto estranho na traquéia.
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