Ralph J. Hofmann
O navio petroleiro não tem culpa. Nem os operários do Estaleiro Atlântico Sul. Nem o corpo técnico da Transpetro.
Mas alguém está jogando na roleta com o dinheiro do povo brasileiro, e, pior ainda com o futuro do Brasil.
Eu costumo citar o governo Geisel como um momento em que as decisões tomadas foram de cunho ideológico. Geisel era um nacionalista. Como tal, na crise de 1974, frente ao salto imenso do preço do petróleo, Geisel decidiu que o Brasil trataria de só consumir o que pudesse produzir. Se possível, todas as divisas internacionais despendidas seriam para suprir insumos como os petroquímicos.
Quinze anos depois estávamos com uma indústria obsoleta, não tivéramos acesso às inovações tecnológicas, num mundo em que a tecnologia dura de cinco a dez anos, tal a rapidez das inovações nossas indústrias estavam sentadas em cima de equipamentos produzidos até trinta anos antes. Exceto por alguns poucos setores não havia grande incentivo para mudar e ainda por cima os custos de implantação de equipamentos novos eram um desincentivo. Estimava-se nos anos 80 que o custo de introduzir equipamento novo no Brasil era de 200 %. Ou seja, uma vez comprada a máquina no exterior o custo de transporte, e implantação era mais duas vezes o preço.
Isto era uma singularidade brasileira. Não havia coisa semelhante em nenhum lugar no mundo. O normal era o custo de implantação não passar de 30 a 50%.
Recapitulando, isto foi simplesmente resultado de uma política de “buy Brazilian”, compre feito no Brasil. Os fabricantes nacionais de equipamento também não tinham acesso a equipamentos de última geração e com o mercado cativo podiam cobrar valores absurdos por equipamentos de baixa produtividade.
O caso do Estaleiro Atlântico Sul e seu contrato para 22 navios reflete algo semelhante. No porto de Rio Grande, RS está se consolidando um pólo de construção naval. No Rio de Janeiro há uma tradição de construção naval. Contudo optou-se por colocar enormes contratos de construção na mão de cortadores de cana do nordeste, como se no Rio de Janeiro não existisse desemprego. Ou seja, a decisão não foi estratégica, foi política. Caso contrário teria sido possível iniciar em Suape um estaleiro com uma previsão de alguns poucos navios com a possibilidade de crescimento futuro. No caso houve o fiasco do João Cândido, sua entrega com dois anos de atraso. O parceiro tecnológico, Samsung está se retirando do consórcio, apenas garantindo tecnologia para mais seis navios. Dezesseis navios ou terão de ser realocados em outros estaleiros, ou, solução mais barata, contratados no exterior.
Os atrasos tem outro sentido. A Transpetro realmente necessita desses navios. Além disso o fato de ser mais caro, ao menos até o momento, produzi-los no Brasil onera os custos da Petrobrás cuja rentabilidade está caindo. Com isto temos uma situação em que as atividades da empresa, no que concerne tecnologia, técnica, criatividade e
desenvolvimento de sistemas para seu objetivo fim, que é descobrir e explorar jazidas de petróleo e refino de petróleo próprio e de terceiros são em grande parte frustradas por atividades meio de custo inflado.
Como o petróleo tem reflexos em toda e qualquer atividade industrial e agrícola do país o tratamento dessa indústria como muleta para políticas sociais do governo compromete todo o país, mexe no bolso de todo e qualquer cidadão mesmo os que vivem de bolsa família, pois impele para cima os preços. Artificialmente manter os preços engessados apenas é uma postergação do problema.
Em suma, a indústria petroleira, após 1973 cresceu, encontrou petróleo, desenvolveu-se, tornou-se eficaz e eficiente para hoje correr o risco de ser arrastada para os casuísmos que deveriam ter se extinguido na década de setenta. .
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