Marco A. E. Balbi
Nós possuímos suficiente experiência de vida para afirmarmos que já assistimos alguns filmes e sabemos o seu final.
Há alguns anos atrás, alguns dirigentes de organizações então na ilegalidade, conduziram um grupo de jovens idealistas a uma aventura com final trágico. Parece que a história tende a se repetir.
O título do texto remete a uma sentença escrita na camiseta de alguns jovens que hoje, dia 19 de junho de 2012, resolveram promover mais uma manifestação que eles chamam de escracho
Orientados(?) por alguns dirigentes mais experientes, conforme já demonstrado em vídeos postados no próprio site que mantém na internet, buscam constranger pessoas que alegam ter cumprido missões durante os anos de 1964 a 1985.
Escolheram a cidade do Rio de Janeiro, em plena efervescência por conta da realização da Conferência Rio+20, pensando alcançar um espaço maior que a mídia habitualmente já lhes dispensa. O tiro saiu pela culatra. Por conta do sem número de manifestações que ocorrem na cidade, o espaço que lhes dispensaram foi mínimo.
A montagem do espetáculo é sempre a mesma. A preparação antecipada inclui a convocação dos militantes, remunerados ou não, mera massa de manobra, alguns incitadores da massa e um pequeno, mas ativo, grupo dirigente. Cumprem uma disciplina quase militar e preparam-se com esmero. Possuem recursos. Confeccionam camisetas, cartazes, bandeiras, instrumentos de percussão, improvisados ou não, compram megafones, imprimem panfletos etc.
Algumas das medidas acima foram facilitadas justamente pela realização da conferência Rio+20. A massa de manobra, por exemplo, foi constituída por militantes da Via Campesina, identificados por suas camisetas e bonés verdes, e por militantes do MST, identificados pela cor vermelha dos seus uniformes. Os dirigentes locais e forasteiros, também estavam disponíveis, alguns porque são profissionais, outros porque a greve das universidades e a realização da conferência propiciaram tempo e uma ótima área de acampamento localizada no campus Praia Vermelha da UFRJ.
Talvez pela localização mencionada anteriormente o local e o alvo do “escracho” foi o bairro de Botafogo e um oficial da reserva do Exército Brasileiro que ali reside.
A região da Rua Lauro Muller e adjacência guarda um quê de bucólico no burburinho da cidade do Rio de Janeiro. Um complexo de prédios com uma área comum de convivência entre eles. Por ali circulam os moradores; universitários estudantes das instituições de ensino público; militares das escolas IME, ECEME, EGN; funcionários públicos da DPNM e do CBPF; deficientes visuais e pessoas que buscam apoio especializado no Instituto Benjamin Constant; jovens adolescentes e crianças alunos de duas escolas, uma pública e uma particular; e pessoas que trabalham em uma torre de escritórios. Uma linha de ônibus faz a integração com a estação do metrô em Botafogo.
Pois bem. A rotina de todas estas pessoas foi violentamente alterada na manhã de hoje. O simples direito de ir e vir foi-lhes cerceado. Crianças não puderam ir ou voltar da escola. Funcionários não puderam sair das suas repartições. Moradores não puderam sair ou chegar às suas casas. Tomaram-lhes a única rua de acesso ao seu recanto. Tudo isto para que? Para constranger uma pessoa! Valendo-se de fontes de consulta comprometidas por um ranço ideológico revisionista acusavam um Oficial da Reserva do Exército, morador de um dos prédios, de torturador.
O panfleto distribuído durante o evento não permitia que se concluísse sobre qual a acusação pesava sobre o militar, em virtude da pobreza da qualidade do texto, posto que aparentemente ele precisaria ter o dom da ubiquidade para estar prestando serviços em diferentes unidades localizadas em municípios distintos ao mesmo tempo.
De qualquer forma os incitadores gritavam palavras de ordem, discursavam, faziam chamada nominal das supostas vítimas e identificavam com uma grande faixa colocada em frente à portaria principal do prédio o nome do militar e o número da sua unidade habitacional.
A Polícia Militar e a Guarda Municipal, presentes ao evento, demonstraram uma postura profissional. Aparentemente a manifestação estava autorizada pelas autoridades competentes e eles se limitaram a manter a incolumidade das pessoas e a preservação dos bens materiais. Entretanto, as pessoas, moradoras ou não, que precisavam transitar pela área eram gentilmente impedidas pelos policiais de fazê-lo. Só os manifestantes possuíam plena liberdade!
O presidente da associação dos moradores estava absolutamente constrangido. Em primeiro lugar porque a associação é uma das mais antigas e atuantes da cidade, tendo como seu fundador e incentivador um oficial do Exército. Em segundo lugar porque o militar constrangido pela manifestação é partícipe com atuação destacada na associação; ele e a família há muito tempo ali residem.
Para encerrar, volto ao título proposto pelos jovens em suas camisetas: será que eles fazem alguma ideia do que eles querem? O que será exatamente um poder popular? Será ousada uma luta baseada em palavras de ordem e chavões gritados à exaustão em megafones? As restrições e o constrangimento impostos às pessoas será que é o que pretendem para o futuro do país? Será que têm alguma noção de como estão manipulando pessoas simples do campo? Será que percebem que estão sendo instrumento e massa de manobra para os que os comandam?
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