Ralph J. Hofmann
Muitos anos atrás quando apareceram os primeiros relógios digitais eu mal podia esperar para adquirir um.
Acabei não tendo um dos primeiros, que gastavam muita pilha porque dependiam de apertar um botão que fazia aparecer os dígitos, mas numa viagem aos Estados Unidos comprei um dos primeiros relógios de cristal líquido.
Provou ser um tiro n’água, ao menos para mim. Constatei que eu não lia as horas. Via as horas no meu relógio análogo. Ou seja, ao usar um relógio digital eu teria de ler que horas eram fazendo um esforço consciente. Com meu velho relógio eu olhava para ele e sabia que horas eram.
Além disto, o tempo adicional para ler as horas podia ser perigoso ao dirigir. Aquele segundo adicional poderia me distrair num veículo a 80 km por hora.
Meu relógio digital foi para a gaveta, e, com o tempo virou brinquedo dos filhos. Todos os relógios comprados posteriormente foram análogos.
Depois fiquei sabendo que a instrumentação de aviões, que por algum tempo foi digital, em muitos casos voltou novamente a ser análoga, exatamente por se prestar mais à rápida coleta de informações sem esforço consciente.
Esta semana vi um “release” da firma Defakto Detail. Está lançando como grande achado um relógio análogo com um único ponteiro.
O mostrador do relógio tem 12 traços indicando as horas, cada divisão de hora com 4 traços menores marcando períodos de 15 minutos, e estas divisões com três traços ainda menores indicando 5 minutos.
Ou seja, voltamos aos primeiros relógios de parede, ainda com engrenagens em madeira, conforme um modelo antigo que tive que funcionavam com um ponteiro.
Um jornalista especializado desfez-se em louvores, lembrando a dificuldade que tivera na infância para aprender a ler as horas com dois ponteiros. Enxerga este relógio da Defakto como um avanço que facilitará aprender a ler as horas.
Tudo na vida exige algum esforço inicial. Quando crianças devemos primeiro memorizar as letras e os números para podermos progredir na compreensão do mundo formal em que ocorrem as atividades que não são puramente manuais.
Aprendidas as letras e algarismos precisamos aprender a tabuada para executar cálculos mais rapidamente.
Posteriormente precisamos aprender certos símbolos peculiares às nossas carreiras. Símbolos que representem elementos como a tabela periódica, ou símbolos de massa ou energia ou ainda velocidade, peso ou volume.
Ainda há a linguagem especializada como: depressão bipolaridade, etc. que imediatamente elucidam algo para médicos ou psicólogos. Tessitura e pigmento para pintores. Caixa alta para impressores. Esquadro para marceneiros. Assim poderíamos seguir infinitamente.
Olhando para o relógio de um só ponteiro considero que o esforço para aprender sua leitura deverá ser maior do que o esforço para ler as horas nu relógio de dois ponteiros. Uma vez aprendido seu proprietário será um pouco menos pontual nos seus compromissos do que o dono de um relógio de dois ponteiros mas não o suficiente para fazer uma diferença no dia a dia.
Contudo não recomendaria seu uso para manuseio de dispositivos de tempo para explosivos.
Em última instância acho que vai para a gaveta junto com meu velho relógio digital.
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