terça-feira, 3 de julho de 2012

Negociações sobre Irã são retomadas; tensão cresce no golfo

O CLUBE DO MAL.
Tiveram início em Istambul negociações entre cientistas iranianos e de seis potências importantes, numa tentativa de solucionar um impasse em torno das aspirações nucleares do Irã, ao mesmo tempo em que Teerã e Washington elevam os trunfos militares em jogo num impasse perigoso no golfo Pérsico.

Na terça-feira os Estados Unidos teria aumentado significativamente sua presença militar na região, dobrando o número de seus navios varredores de minas e trazendo aviões furtivos (invisíveis a radares), em parte para dissuadir qualquer tentativa iraniana de fechar o estreito de Ormuz, no golfo Pérsico, pelo qual passa diariamente um quinto do petróleo consumido no mundo.

Como parte de "jogos de guerra" extensos, o Irã fez um disparo experimental de mísseis de médio alcance, capazes de atingir bases americanas na região ou em Israel. Enquanto isso, em Teerã, o Parlamento pediu a discussão urgente de um projeto de lei que visa bloquear pelo menos alguns navios petroleiros no Golfo, e houve relatos de que a liderança iraniana poderia estar cogitando anunciar um nível novo e mais alto de enriquecimento de urânio.

As conversações em Istambul foram organizadas para manter os canais diplomáticos abertos, depois de negociações de alto nível em Moscou, no mês passado, terem terminado em um impasse. O objetivo, ostensivamente, é estudar se a falta de conhecimento dos aspectos científicos envolvidos nas posições de negociação opostas estaria criando um obstáculo a um acordo.

Um diplomata europeu disse que os especialistas estão em Istambul hoje para explicar a posição europeia e responder às perguntas iranianas em nível técnico.

O Reino Unido e outros membros de um grupo de seis potências mundiais também enviaram diplomatas de alto nível para avaliar se houve alguma modificação na posição iraniana desde que o embargo petrolífero da UE entrou em vigor, no domingo.

Mas os sinais vindos de Teerã sugerem um endurecimento da posição iraniana. O Parlamento (Majlis) pediu que seja discutido um projeto de lei que prevê o fechamento do estreito de Ormuz para navios vindos de países que apoiam as sanções contra o Irã.

O porta-voz do Ministério do Exterior, Ramin Mehmanparast, disse que, se o Majlis de fato pedir tais medidas, o governo será obrigado a seguir suas direções. Mas não está claro qual poderia ser o alvo de tais medidas, já que muitos países pró-ocidentais já deixaram de adquirir o óleo iraniano.

Também foram vistos sinais de que a liderança iraniana pode estar se preparando para anunciar a elevação do nível ao qual enriquece urânio. O Majlis pediu ao governo que comece a construir navios não dependentes de combustíveis fósseis, numa alusão clara a um anúncio feito no mês passado pela marinha iraniana de que está planejando construir submarinos movidos a energia nuclear.

Tais embarcações poderiam usar desde o urânio enriquecido a 20% que o Irã está produzindo atualmente até o urânio de 90%, grau de pureza própria para uso em armas nucleares. Na segunda-feira foram recebidos de Teerã relatos não confirmados de que o presidente Mahmoud Ahmadinejad estaria se preparando para anunciar uma nova meta de enriquecimento situada em algum ponto entre esses dois extremos.

Tal iniciativa seria vista por boa parte da comunidade internacional como provocação, já que aproximaria o Irã da capacidade necessária para produzir o núcleo físsil de uma arma nuclear. Teerã vem insistindo que suas aspirações nucleares são pacíficas, mas o Conselho de Segurança da ONU exigiu a suspensão do programa de enriquecimento de urânio enquanto o país não puder comprovar sua finalidade pacífica.

Israel ameaçou tomar medidas militares contra os locais nucleares iranianos, alegando que a produção iraniana de urânio a 20%, boa parte dela em um local subterrâneo, já representa uma ameaça intolerável a sua segurança. No momento, Israel é o único país do Oriente Médio dotado de armas nucleares.

O "New York Times" divulgou na terça-feira que a marinha americana dobrou para oito o número de suas embarcações varredoras de minas no Golfo Pérsico, como sinal ao Irã de que poderá reabrir o estreito de Ormuz rapidamente caso ele seja semeado de minas.

Um funcionário sênior do Pentágono, não identificado, teria dito que a mensagem transmitida ao Irã é "nem pensem em fechar o estreito de Ormuz. Nós varreremos as minas. Nem pensem em enviar suas embarcações velozes para incomodar nossos navios ou cargueiros comerciais. Nós as afundaremos."

Segundo a reportagem, a força aérea dos EUA vem reforçando sua presença na região desde o final da primavera, levando para lá aviões de guerra furtivos F-22 e bombardeiros mais convencionais F-15C, aumentando sua capacidade de atacar baterias de mísseis costeiros anti-navios, além de outros alvos mais distantes da costa.

As discussões diplomáticas de alto nível sobre o programa nuclear iraniano foram suspensas no mês passado após um encontro entre as seis potências e o Irã em Moscou. O grupo de seis países --EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China-- ofereceu uma série de incentivos se o Irã suspendesse sua produção de urânio enriquecido a 20%. Em resposta, o Irã pediu a suspensão completa de todas as sanções e o reconhecimento internacional de seu direito de enriquecer urânio em princípio, antes de discutir a limitação de seu enriquecimento a 20%.

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