O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT-TO), suspeito de ter recebido financiamento do bicheiro Carlinhos Cachoeira nas eleições de 2004, chegou ao Senado na manhã de terça-feira para prestar depoimento à Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) mista que investiga a ação do contraventor. O petista terá de dar explicações aos parlamentares pela negociação entre ele e Cachoeira gravada em vídeo e divulgada semana passada pelo Fantástico.
Um grupo de seis vereadores da capital de Tocantins, além de alguns assessores, acompanhou o prefeito na chegada. Raul Filho prometeu responder aos questionamentos dos parlamentares, e, por meio de sua assessoria de imprensa, avisou que conversará com jornalistas ao final da sessão.
Três senadores e três deputados apresentaram à comissão requerimentos de convocação do petista, que foram aprovados por unanimidade na última reunião, na quinta-feira. Os parlamentares pedem a apuração de denúncia exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo. A emissora exibiu um vídeo gravado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira em 2004, durante a campanha que elegeu Raul pela primeira vez.
O vídeo mostra Cachoeira e Raul entrando em uma sala com assessores para uma reunião. Eles conversam por quase uma hora. O futuro prefeito fala sobre as oportunidades que poderiam ser exploradas pelo grupo de Cachoeira na capital do Tocantins, em troca de contribuições de campanha.
Os deputados que apresentaram requerimento são Rubens Bueno (PPS-PR), Paulo Teixeira (PT-SP) e Carlos Sampaio (PSDB-SP). Os senadores são Alvaro Dias (PSDB-PR), Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Kátia Abreu (PSD-TO).
O requerimento de Kátia Abreu é o único anterior à exibição do vídeo. Ela aponta irregularidade na contratação da empresa Delta pela prefeitura de Palmas, em 2006, para coleta de lixo. Segundo ela, a empresa apresentou preços bem inferiores aos de mercado para vencer a licitação e depois o valor foi aumentado. Também houve irregularidades na licitação, segundo o Ministério Público.
Recesso
A reunião de hoje será a última destinada a depoimentos neste semestre. Na quarta-feira, a comissão não se reunirá, por ser o dia da votação do pedido de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) pelo plenário do Senado. Na quinta-feira, a comissão realizará uma reunião administrativa.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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