Em discurso transmitido pela televisão em Ramallah, o presidente palestino Mahmoud Abbas prometeu levar adiante o pedido de adesão do Estado da Palestina à ONU no dia 23 de setembro. "Após meu discurso (na Assembleia Geral), apresentarei o pedido de adesão ao secretário-geral para que o transmita ao presidente do Conselho de Segurança", disse o líder palestino na última sexta-feira. Abbas espera o reconhecimento do Estado no território definido pelas fronteiras anteriores à guerra de 1967, tendo Jerusalém Oriental como capital.
No entanto, a população nas principais cidades da Cisjordânia, Ramallah e Belém, ainda não sabe como a iniciativa do governo deve afetar a vida cotidiana. "Com certeza ficaríamos felizes de ter um Estado reconhecido na ONU, mas acho que na prática não mudaria em nada", disse Ahmad Z. (os entrevistados preferiram preservar seus sobrenomes), 22 anos, estudante de Direito da Universidade de Birzeit, em Ramalah. "Não resolveríamos o problema da ocupação israelense nos territórios palestinos e o direito de retorno dos refugiados", completou Ahmad. Sua colega Reen M., 23 anos, diz que não apoia a iniciativa do presidente. "Somente um grupo específico saírá ganhando com este passo. A maioria das pessoas vai sofrer mais com o aumento da crise econômica", disse a jovem muçulmana com um véu azul.
Já o estudante de Engenharia, Saad O., 23 anos, diz que ainda não sabe se é contra ou a favor da proposta, pois não recebeu informação suficiente da Autoridade Palestina (AP). Todos os dias ele se desloca de Jerusalém Oriental a Ramallah para ir às aulas no campus de Birzeit, e reclama que "sua vida já está ficando pior". "Levamos mais tempo para cruzar o check-point, porque há mais controle", diz. No sábado, o exército israelense aumentou a segurança na área entre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Segundo a Rádio de Israel, uma força adicional de 1.500 soldados foi distribuída para prevenir atritos entre os palestinos e israelenses em assentamentos.
Em Belém, a população também tem dúvidas. O taxista Mohamed H., 58 anos, está preocupado com a situação econômica e teme que muitos amigos percam o emprego em Jerusalém Oriental. De acordo com o Escritório Central de Estatísticas Palestino (PCBS, na sigla em inglês), em 2009, de um total de 475.500 trabalhadores palestinos assalariados, 262.100 trabalhavam na Cisjordânia, 144.100 em Gaza, 58.500 em Israel e 10.800 em assentamentos judaicos. "E como vai ficar o preço da gasolina? A gente já compra a gasolina de Israel e a Autoridade Palestina joga um imposto em cima para poder se sustentar. É capaz que a gasolina fique ainda mais cara.", diz o taxista.
O diretor do "Centro para Aproximação entre Povos", George Rishmawi, explica que a Autoridade Palestina não detalhou seu plano e esclareceu a população nos últimos meses através de comícios ou mesmo distribuição de folhetos para não acabar com a "margem de manobra política". "Se eles publicassem a agenda, não poderiam mudá-la depois nos bastidores", explicou em seu escritório em Beit Sahour, no subúrbio de Belém.
Em vez de adotar a estratégia de pedir reconhecimento do país no Conselho de Segurança da ONU, onde poderá receber o veto dos Estados Unidos, Abbas ainda pode recorrer à Assembleia Geral. "Estaremos dispostos a abrir mão do pedido ao Conselho de Segurança se, em troca, os países europeus nos apoiarem na Assembleia Geral", disse o embaixador palestino na Alemanha, Saleh Abdel-Shafi, segundo o jornal Ynet. Neste caso, a Autoridade Palestina poderia obter o reconhecimento como país não-membro, com status de observador.
Economia
Segundo Rishmawi, a AP vive sob pressão para continuar as negociações com Israel. "Se cancelarem o investimento estrangeiro, as importações israelenses e a ajuda financeira dos Estados Unidos através da USAID, eles morrem. Terão que se manter com os impostos locais", afirmou.
O vice-chanceler de Israel, Danny Ayalon, disse ontem em uma Conferência nas Nações Unidas que Israel tem interesse em continuar colaborando para o desenvolvimento econômico palestino, mas esta posição poderia mudar caso os palestinos declarem um Estado de forma unilateral.
"Uma assistência e cooperação futuras podem ser severamente e irreparavelmente comprometidas se a liderança palestina continuar neste caminho de contravenção de todos os acordos assinados, que também regula as relações econômicas entre Israel e a Autoridade Palestina", afirmou Ayalon.
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