Ralph J. Hofmann
O Brasil está querendo impedir o ingresso ao ensino fundamental de crianças de menos de seis anos. (Veja no link http://poncheverde.blogspot.com/2011/11/mec-vai-recorrer-de-decisao-que-reduz.html)
Faço aniversário na metade de Julho. Portanto durante toda minha carreira estudantil sempre fui um dos mais jovens da sala de aula. Isto não evitou que eu passasse no vestibular imediatamente após terminar o ensino médio.
Muitos anos depois, às 2 h. da madrugada eu estava sentado numa fila, com três amigos tomando chimarrão na frente de uma escola particular em Joinville.
Nossos filhos não tinham irmãos mais velhos na escola nem nós tínhamos estudado ali. A escola tinha uma política de reservar as matrículas para quem tivesse irmãos mais velhos no estabelecimento e para filhos de ex-alunos ou descendentes de fundadores da instituição. Após isto as matriculas eram distribuídas em ordem de chegada.
O ano anterior minha filha fora para uma escola de cujos métodos eu não aprovara. Portanto eu estava ali para conseguir a matrícula de meus dois filhos mais velhos. Quem chegasse primeiro conseguiria matrículas. Fomos, quatro forasteiros, pessoas recrutadas fora do estado para empresas locais, e montamos nosso acampamento como se estivéssemos comprando entradas para um show de rock. Mesmo chegando cedo havia algumas pessoas na nossa frente.
Às oito horas entregaram as fichas para serem preenchidas. Às nove cheguei ao balcão de matrículas. Preenchera dados dos filhos, ano de nascimento etc.
O resultado foi interessante. Minha filha nascida em 5 de janeiro foi para o ano correto, o primeiro ano do ensino fundamental. O meu filho nascido 20 meses depois dela em 6 de novembro estava matriculado no pré-escolar. Ela nascera em 1980 e ele em 1981. Anos subseqüentes. Foram colocados em séries subseqüentes.
Eu não entendia nada disto. No meu tempo não havia o pré-escolar. Jardim de infância era uma opção dos pais. Eu entrei direto no primeiro ano. Achei perfeitamente normal meu filho não estar no “maternal”(?). Além disto, eu passara uma noite insone. Nem olhara a confirmação de matrícula. O mesmo ocorrera com o filho de um dos colegas. Seu filho fazia aniversário 10 dias depois do meu. A decisão foi pelo ano de nascimento. As esposas também não notaram nada.
No ano seguinte ao fazer a rematrícula para o primeiro ano alguém se deu conta que ele era um ano mais jovem que a média dos alunos. Quiseram fazê-lo repetir o pré-escolar.
A professora dele, muito compreensiva, foi quem depôs alegando que isto teria um efeito negativo. Meu filho fora o primeiro a aprender a ler, o primeiro a aprender as quatro operações. Já estava lendo por deleite e não por obrigação. Submetê-lo a repetir o ano seria injusto e poderia envenenar sua relação futura com os estudos.
Ganhamos a causa e meu filho terminou o mestrado de engenharia aos 23 anos. Sempre foi o de estatura mais baixa e menos sofisticado da aula até o segundo ou terceiro ano da faculdade. Mas nunca teve problemas em acompanhar as aulas, e ao contrário foi excelente aluno.
Ele é um dos muitos, sequer superdotados, diria alunos com maturidade intelectual algo precoce. Com o passar dos anos estudei o assunto. Crianças que são problema em sala de aula por falta de desafio. Crianças que são problema fora de aula. Muitas vezes é por falta de desafio.
A verdade é que o sistema escolar brasileiro parece ter medo até das crianças levemente mais inteligentes. Ou das crianças precoces. Que dirá dos gênios.
Em outros países há programas para identificá-los e tratá-los diferenciadamente. Nas universidades inglesas há umas poucas vagas para “Estudos Gerais”. São para pessoas que escolhem o que e quando querem estudar. O sistema acredita que vão achar seu nicho e que o país sairá lucrando com isto.
A inteligência é uma “commodity” valiosa. Steve Jobs não se enquadrava no sistema de ensino. Abandonou a faculdade e assistiu aulas sem estar matriculado. Escolheu o que lhe interessava. A atriz Hedy Lamarr que nunca estudou, patenteou o conceito dos telefones celulares na década de 30. Ronald Golias assistiu anos da faculdade de direito sem que os professores se dessem conta de que não estava matriculado.
Mas no Brasil parece que as autoridades educacionais querem nos ver numa monótona e cinzenta mesmice que não deixe espaços para a genialidade e criatividade.
Aliás, o país realmente encoraja certo tipo de genialidade. A genialidade em criar cada vez mais e melhores arapucas para espoliar o povo.
MEC vai recorrer de decisão que reduz idade mínima escolar
Posted: 24 Nov 2011 10:38 PM PST
O Ministério da Educação vai recorrer da decisão da Justiça Federal que suspendeu uma resolução que impedia a matrícula de crianças menores de seis anos no ensino fundamental. Pela regra, estabelecida em 2010 pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado à pasta, o aluno precisa ter seis anos completos até 31 de março do ano letivo para ser matriculado no 1° ano do ensino fundamental, caso contrário deverá permanecer na educação infantil. Segundo o CNE, o objetivo da medida é organizar o ingresso dos alunos no ensino fundamental, já que até então cada rede de ensino fixava uma regra diferente. "Nós queremos preservar a normalidade dos sistemas de ensino para que eles possam começar o ano letivo de letivo de 2012 organizadamente", defendeu a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda. As resoluções do CNE não têm força de lei, mas servem de orientação geral para os sistemas públicos e privados de ensino. De acordo com Pilar, 80% das redes públicas de ensino já respeitam o prazo de 31 de março. A pressão para que crianças menores de 6 anos sejam matrículas no 1° ano do ensino fundamental vem dos estabelecimentos privados. O MEC e o CNE argumentam que a criança pode ser prejudicada se ingressar precocemente no ensino fundamental. A consultoria do MEC deverá se reunir com membros do CNE no início da próxima semana para elaborar o recurso. Em sua decisão, o juiz Cláudio Kitner defendeu que a competência de cada criança precisa ser avaliada individualmente e a aptidão para o ingresso não pode ser baseada apenas no critério cronológico. Segundo ele, permitir a matrícula a uma criança que completa seis anos em 31 de março e negar a outra que faz aniversário um mês depois fere o princípio da isonomia.
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