sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A CULPA É DO MORDOMO

Ralph J. Hofmann

Em meados da década de sessenta a escritora Rona Jaffe escreveu um romance em que um criminoso de colarinho branco americano fugia para o Brasil. Nos primeiros dias descobre que morar no Rio de Janeiro não era tão seguro assim. Não pelos trombadinhas nem pelos assaltantes pois estes ainda tinham uma atuação bastante mais discreta naqueles dias.

O problema era onde morar. Foi um período em que volta e meia algum dos prédios de frente para o mar desabava.

Não sai da minha memória uma cena do livro em que um número de populares observa mais um prédio desabado e diz: “ A engenharia nacional é muito boa. Veja! O prédio não desabou em pedaços. Caiu inteirinho!”

Creio que posteriormente se constatou que realmente os engenheiros civis haviam calculado corretamente o prédio. O problema foi que o mordomo..., isto é, o contramestre estava usando uma parte de areia da praia para o concreto e embolsando a diferença.

Nesta mesma época eu tinha um amigo aqui em Porto Alegre que, num laboratório da universidade, fazia testes de resistência do concreto usado em prédios da cidade. Este tinha em sua equipe um dos mais experientes fiscais de obras, encarregado de passar nas obras e recolher amostras do concreto que estava sendo correntemente moldado.

Disse que esta era uma atividade de guerrilha. Tinha de surpreender o contramestre para colher amostras. Caso contrário este insistia e m fazer uma mistura; “das boas doutor!” especial para ser testada.

Avisou-me para esperar alguns anos antes de entrar em certos prédios públicos.

Bem, não vou dizer que foi isto que aconteceu no Rio de Janeiro esta semana, mas estou com medo que o Al Qaeda se inspire nisto para sabotar os prédios já na hora da construção.

Imaginem. Em 2020 rui um prédio construído em 2012. Na manhã seguinte surge uma placa nos escombros:

“Este desabamento é uma cortesia da marca Al Qaeda. Foi executado sem o uso de explosivos ou outros métodos deletérios ao meio-ambiente.”

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