O presidente da comissão da ONU que investiga as violações de direitos humanos na Síria, o brasileiro Paulo Pinheiro, disse nesta segunda-feira que a situação no país é cada vez mais desoladora e fez um apelo para que se "rompa o ciclo da violência", evitando que o confronto armado gere uma guerra civil.
Ao apresentar o último relatório sobre a Síria ao Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas, Pinheiro denunciou que a situação é cada vez mais precária não só na província de Homs - atacada por forças governamentais -, mas também em Idlib, Hama, na área rural de Damasco e em Daraa.
Em resposta, a delegação síria na ONU em Genebra rejeitou o relatório, acusou a comissão de ter "caído na armadilha de permitir a instrumentalização de seu trabalho com fins políticos" e sustentou que os apelos por uma intervenção internacional "constituem o início da partilha da Síria".
Em seguida, responsabilizou "grupos armados" dos abusos dos direitos humanos, afirmando que contam com a colaboração do movimento terrorista Al Qaeda.
O único ponto no qual o representante do regime sírio concordou com a comissão investigadora foi em que "não há alternativas ao diálogo nacional que reúna todas as partes para chegar a uma reforma sem violência", mas em seguida continuou negando o documento e dizendo que suas conclusões "não têm base jurídica".
A comissão denuncia em seu relatório o horror que a população síria suporta há meses, mas aponta que "grupos antigovernamentais também cometeram abusos", esclarecendo, no entanto, que "há uma grande disparidade entre os meios que estes usam e os que são desdobrados pelas forças do regime".
De maneira indireta, Pinheiro se referiu às acusações do governo sírio de que a oposição está sendo armada do exterior e disse que "aumentar a militarização e fornecer armas não são a resposta correta à crise".
Nesse sentido, o brasileiro afirmou que as autoridades sírias entregaram à comissão informações relacionadas ao financiamento e ao fornecimento de armas a grupos opositores.
Além disso, considerou que "um diálogo nacional" é essencial para superar a situação atual, embora tenha reconhecido que esse tipo de solução "pode não responder às expectativas e exigências de todas as partes envolvidas".
Ao comentar o relatório na mesma sessão do CDH, o diplomata russo Mikhail Lebedev concordou que a solução à violência deve se basear no "diálogo entre o governo e a oposição".
Além disso, criticou o "caráter destrutivo das sanções econômicas" contra a Síria, pelas quais vários países ocidentais optaram diante da impossibilidade de chegar a um acordo no Conselho de Segurança da ONU sobre sanções multilaterais.
Segundo Moscou, esse tipo de medidas atrapalha a chegada de ajuda humanitária à população.
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