sexta-feira, 2 de março de 2012

OBSOLESCÊNCIA BRASIL

OBSOLESCÊNCIA BRASIL

Ralph J. Hofmann

Os trágicos eventos da Base Comandante Ferraz colocam em evidência a diferença entre uma administração competente e uma administração incompetente.
Não raro durante minha carreira, em que preparava empresas para exportar, observei que uma vez comprado e instalado um equipamento os donos de uma indústria consideravam esta compra definitiva.
Penso particularmente num fabricante de parafusos que me levou para ver sua máquina alemã de produzir parafusos e me anunciou que ela tinha 25 anos e era muito melhor que a máquina que seu concorrente acabara de importar. Aceitava ferramental para fazer muitas linhas diferentes de produto operava confiavelmente e com cuidado e manutenção poderia operar por mais 25 anos.
Ponderei que não conhecia os custos de operar esta máquina em particular, mas mesmo assim, sem muito risco de errar sugeriria cortar a mesma em pequenos pedaços e mandar transformar estes pedaços em ferro líquido na fundição mais próxima. A seguir comprar um conjunto de máquinas menos flexíveis, ou seja, capazes de fazer uma linha específica de produto.
O fabricante achou que eu estava brincando. Mas não era brincadeira não. A máquina velha sofria de longos períodos de parada para troca de ferramental, outros períodos de parada para manutenção programada, paradas para eliminar problemas oriundos de desgaste no equipamento.
Ficaria mais barato comprar várias máquinas que tivessem menos paradas para troca de ferramenta e sofressem menos manutenção. A compra dessas máquinas era financiada pelo fabricante. O custo do financiamento era menor do que o custo de manutenção. A máquina nova não duraria 25 anos. Deveria ser lançada no forno cubilot de uma fundição após uns sete anos e reposta por uma máquina nova incorporando as inovações no produto que teriam surgido nos primeiros cinco anos após o projeto da máquina velha.
Isto fere os conceitos dos velhos contramestres e diretores de indústrias que possuem uma relação afetiva com seu equipamento. Quem deveria se beneficiar com isto são os museus industriais que podem abrigar velhas máquinas para manter a memória da história industrial.
Não sei o que é feito hoje do fabricante. Sei que seu concorrente que importou máquinas está conseguindo se manter, apesar da intensa importação de parafusos chineses, pois mesmo pagando salários brasileiros, e não chineses, a alta produção com poucos empregados lhe dá certa proteção.
Isto tem algo a ver com a Base Comandante Ferraz, as estradas, pontes e ferrovias brasileiras.
Para empresários de primeira linha é absolutamente claro que uma estrutura de produção precisa de certo tipo de manutenção, certo número de vezes por algum período. É também possível prever o momento em que as manutenções são mais onerosas do que a troca de equipamentos.
Mas não fica claro para ministros do sistema brasileiro. Estes não ganham pontos em cima de obras já feitas. Manutenção não se inaugura. O que está feito está feito vamos adiante fazer algo novo que poderá ser inaugurado no começo da obra, no fim de cada etapa, com cada inspeção e ao fim da obra.
E “nunca antes” se inaugurou tanto e “nunca antes” se ignorou a manutenção e substituição tanto quanto nesta última década do Brasil.
Aguardem novos desastres. Certamente um deles será com o sistema de controle aéreo. Possivelmente outro será gerado pelos critérios da privatização dos aeroportos.

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