segunda-feira, 7 de maio de 2012

NOTA DE RODAPÉ DA HISTÓRIA

Ralph J. Hofmann

Quando a segunda guerra mundial terminou com a assinatura da rendição incondicional da Alemanha numa antiga escola em Reims na França o ato foi testemunhado por dezesseis jornalistas que haviam sido convidados pelo alto comando aliado na Europa.

No avião a caminho de Reims foi solicitado aos jornalistas que se comprometessem a não divulgar a notícia até a autorização pelo comando.

Dito e feito, a cerimônia foi realizada porém a autorização de divulgação não saia.

O motivo é que Stalin pedira para darem tempo para que organizasse uma segunda cerimônia na Berlim ocupada que parecesse ser a verdadeira rendição. O embargo de notícia que deveria ser de seis horas foi prorrogado para 36 horas.

Contudo Ed Kennedy, correspondente da Associated Press (AP) que reclamara ante o atraso que não envolvia nenhuma segurança militar, pois a guerra acabara, subitamente ouviu a noticia numa estação de rádio Alemã na cidade de Flensburg que estava em mãos aliadas quando do cessar-fogo. Obviamente os censores que estavam segurando a notícia para o mundo haviam autorizado a transmissão da rádio alemã.

Imediatamente foi ao Bureau de Censura reclamar novamente comentando que se as rádios na Alemanha estavam dando a notícia isto já não era mais nenhum segredo, as condições do acordo de não divulgar estariam anuladas, por serem apenas de cunho político.

Não recebendo satisfações achou um telefone desbloqueado e transmitiu sua notícia ao escritório da AP em Londres. Dentro de uma hora o sistema AP estava disseminando a notícia no mundo inteiro.

Mesmo assim, o blecaute de notícias para os outros 16 jornalistas em Reims continuou. OU seja, durante 24 horas a AP ainda teve exclusividade da notícia mesmo estando “Inês morta” (*).

Como conseqüência o alto comando bloqueou o acesso da AP às comunicações durante alguns dias. Ed Kennedy foi expulso da Europa. A AP acabou demitindo-o e emitindo várias notas condenando-o.

Apesar da condenação generalizada no momento com o passar dos anos jornalistas passaram a analisar o caso mais friamente e concluíram que Kennedy estava com a razão. Sua obrigação como jornalista, não pairando nenhuma ameaça sobre as tropas aliadas naquele momento, era de informar, pois o comando militar estava fazendo jogadas políticas sem nexo.

Esta semana o Tom Curley o atual CEO da AP, em função do lançamento de um livro póstumo de Ed Kennedy e de um livro sobra a AP na história pediu desculpas aos descentes de Kennedy. Alega que “Kennedy se pautou por princípios legítimos. Finda uma guerra não é possível cercear a divulgação de fatos tão grandes quanto a rendição do inimigo”.

Kennedy faleceu num acidente em 1963 aos 58 anos de idade. Durante anos procurou obter um pedido de desculpa da AP, considerando a maneira em que as notícias estavam sendo obtidas e veiculadas correntemente após a guerra.

Contudo isto não quer dizer que tenha passado os anos remoendo o passado e a carreira perdida. Longe de ser o “jornalista alquebrado que se retirou para a Califórnia” a que muitos contemporâneos se referiam, tornou-se editor de um jornal e uma editora em Santa Bárbara e Monterey na Califórnia, uma pessoa ativa, feliz e interessada em tudo.

O Livro “Ed Kennedy’s War: V-E Day, Censorship & The Associated Press.” – A Guerra de Ed Kennedy: o dia VE (Vitória na Europa) , Censura & a AP – baseia-se num manuscrito deixado por Kennedy que sua filha finalmente editou com o conhecimento e ajuda do atual presidente de AP.

(*) “Não adianta, Inês é morta” - Inês de Castro amante e mãe de filhos do que viria a ser Dom Pedro I de Portugal foi morta por ordem do rei. Após Dom Pedro I ser coroado fez coroar o esqueleto de Inês.

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