quarta-feira, 11 de julho de 2012

DESDE O CARTÃO PERFURADO ATÉ A RAPSÓDIA‏

Ralph J. Hofmann

L.Eric Hofmann irmão do meu pai era um cara interessante. Nascido em 1900 tinha dez anos mais que meu pai. Praticamente fugido de casa alistou-se no exército alemão com dezessete anos e promovido a segundo tenente foi ferido nas trincheiras em Flandres. Antes que saísse do hospital a guerra (1914-18) acabou.

Em 1922 quando estudava economia em Heidelberg faleceu meu avô e ele abandou ou os estudos. Foi para Berlim e em 1933 era diretor de duas empresas na área de comunicações. A RCA Victor alemã, produtora de discos e a UFA, produtora de cinema. Claro que perdeu ambos os empregos o dia que os nazistas chegaram ao poder.

Com isto ele teve condições de avaliar o que se podia esperar dos nazistas. Como a família era da Floresta Negra e bilíngüe em alemão e francês foi para Paris onde tinha trânsito no mundo artístico graças a relacionamentos que desenvolvera em Berlim.

Contou-me que um dia encontrara numa noite de festa um outro emigrado que acabou por levá-lo conhecer uma oficina que tinha numa garagem. Lá desenvolvera uma máquina que facilitava a perfuração de cartões para a programação de padronagens de têxteis em teares. Até então isto era feito manualmente. Com esta máquina de posse de um desenho têxtil o processo era simplificado.

O inventor não sabia vender suas idéias. Meu tio procurava algo para ganhar a vida. Assim procurou desenhistas têxteis, encomendou lhes desenhos e o inventor preparava cartões para teares. Depois meu tio percorria todas as tecelagens da Europa que onde já tinham máquinas programáveis e lhes vendia desenhos e cartões.

Ou seja ele trabalhava com máquinas programáveis já em 1934-35 e viveu muito bem disto até que os alemães invadiram a França e ele se submergiu na clandestinidade na Resistência Francesa até o fim da segunda guerra mundial.

A programação por cartões não era efetivamente uma novidade. Os realejos eram por cartão e as caixas de música já eram há mais de século por cilindros com ressaltos.

Por outro lado na segunda metade do século XIX havia as pianolas, pianos de parede que podiam ser tocados por um rolo de papel com perfurações. Estas pianolas foram populares até cerca de 1930. No início seu sucesso se devia ao fato de que ainda não havia gramofones bons. As pianolas reproduziam exatamente a arte do pianista que tocara a música para criar o rolo de papel.

As pianolas saíram de moda na medida em que os gramofones se tornaram elétricos, com melhor som e naturalmente a um custo menor do que uma pianola que evidentemente era um piano, e custava o preço de um piano. A crise econômica de 1929 praticamente acabou com as pianolas.

Contudo há aspectos interessantes. Ontem descobri o link abaixo. É de um vídeo com trechos do filme “Rhapsody in Blue” (Rapsódia Azul) sobre a vida de George Gerschwin (1898-1937). O som é a Rapsódia Azul ou “Rapsódia em Blues” tocada por

Gerschwin. Ele a compôs em 1925. Em 1927 perfurou um rolo com essa música. O rolo sobreviveu e reproduzido eletronicamente é tocado numa pianola antiga com um conversor de sinais.

Em algum lugar tenho um disco de 33 r.p.m. de nove polegadas reproduzindo velhos discos de 78 r.p.m. com Gerschwin ao piano. Ao ouvi-lo praticamente se pode cheirar os charutos e as xícaras de café de George e Ira Gerschwin no estúdio. Mas há os defeitos e chiados de discos gravados nos primórdios da técnica.

Pois bem. Neste rolo temos a mão do artista tão perfeita quanto o instrumento em que é tocado. Espero que gostem.

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