Eliane Catanhêde
Folha de São Paulo
BRASÍLIA - Um segredinho, aqui entre nós: Dilma Rousseff trabalha seriamente com a possibilidade de derrota de Barack Obama nos EUA e de Hugo Chávez na Venezuela, neste ano, repetindo o que ocorreu com Nicolas Sarkozy na França.
Obama ostenta um índice de desemprego de 8,2%, com 12,7 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho na maior potência mundial. Se o dado é capaz de derrubar as Bolsas em diferentes continentes, é também suficiente para abalar a confiança do eleitor norte-americano e as certezas de vitória do presidente.
Com Chávez, há duas questões para além da economia. Ao cercar o câncer de mistério, sua imagem tão forte passa a refletir fragilidade. E, pela primeira vez desde 1999, a oposição cerrou fileiras com uma candidatura, a de Henrique Capriles. Chávez passou a conviver com uma novidade: um opositor para valer.
Ao contrário de Lula, que operava com paixão, improvisava e confiava excessivamente no seu taco, Dilma é pragmática, técnica, realista. E aqui vai outro segredo: ela até se entende com Chávez, mas não morre de amores por Obama. Avalia que ele é muito saltitante e pouco eficaz.
Não significa que Dilma e o governo, em geral, estejam torcendo para Capriles ou para o republicano Mitt Romney. Até porque nem um nem outro acenam com mais vantagens para o Brasil do que Chávez e Obama.
Romney, aliás, acaba de dizer que os níveis de desemprego são "um soco no estômago da classe média" e prega, como uma das soluções, "aumentar o comércio com a América Latina". Mas, nas milhares de linhas de seu programa de governo, adivinha quantas vezes aparece a palavra Brasil? Nenhuma. O Planalto escaneou e registrou.
Então, ficamos assim: Dilma é muito mais pró-François Hollande do que era pró-Sarkozy na França, mas não se emociona com as eleições nem na Venezuela nem nos EUA. Tanto faz como tanto fez.
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