domingo, 20 de novembro de 2011

QUANDO A COMPETÊNCIA SE ESGOTA

Ralph J. Hofmann

Durante alguns anos fui admirador do Sr. Eike Batista. Estava montando um conglomerado. Eu sentia que ele devia ter aproveitado algumas vantagens, como a familiaridade com o mapa geológico do país, mas enfim, para fazer deste tipo de conhecimento um grupo de empresas que funcione é necessário algum talento a mais.

Contudo, nos últimos anos, passou-me pela cabeça o fato de que ele estava lançando empresas novas a cada poucos meses.

Normalmente quem deseja fazer um conglomerado parte para a compra de empresas, principalmente se estiver trilhando novos caminhos. Ao comprar empresas adquire os técnicos, as rotinas de trabalho, a programação e o “know-how”. Depois desloca pessoas de seu núcleo de “holding” para efetuar correções em termos de administração geral, levando em conta a experiência dos especialistas encontrados. Eventualmente atrai alguma cabeça pensante altamente qualificada no aspecto tecnológico ou técnico.

No caso Eike Batista já se tornou famoso por atrair técnicos de outras empresas, pagando muito bem, mas geralmente tem fundado empresas completamente novas. Estes técnicos de alguma forma existiram em suas empresas anteriores administrando e reformulando estruturas já existentes. Quando são recrutados já existe ao menos um manual.

No caso, ao serem criadas novas empresas muito rapidamente e ao mesmo tempo um grande número de empresas, alavancadas uma no lançamento em bolsa da outra surgem dúvidas quanto à capacidade de administrar detalhes. Não há tempo nem funcionários qualificados suficientes.

Quem já negociou compras de equipamentos complexos sabe disto. Ao adquirir qualquer conjunto de máquinas o comprador precisa saber tudo sobre as condições de trabalho a exigir do fornecedor. Onde o fornecedor não for exigido vai cotar um preço baixo e fornecer o material nas condições limítrofes.

Isto parece estar bem ilustrado com a plataforma da OSX que aportou no Rio de Janeiro há um mês.

Foi montada em Singapura e na Coréia. Tem problemas de segurança. Não se enquadra nas normas de segurança brasileiras. Assim, em lugar de zarpar esta semana para o campo de Waimea na bacia de Campos e realizar a primeira produção em dezembro está proibida de sair do porto.

São listados 45 problemas todos previstos nas normas de segurança brasileiras. Isto começa pela inadequação dos extintores de incêndio, que teriam de ser aprovados por autoridade competente, mas inclui má ventilação, instalações elétricas pouco protegidas, equipamentos de proteção individual fora do padrão Inmetro, equipamento de detecção de gases e de ácido sulfídrico abaixo do desejado assim como andaimes frágeis. Além disto, a empresa desejava fazer-se ao mar sem executar treinamento prévio de segurança. As autoridades não acreditam que seja possível corrigir todas as limitações em poucos meses.

Como não creio que o Sr. Eike Batista propositalmente encomendasse uma plataforma com estas limitações apenas posso presumir que estamos vendo o Princípio de Peter em ação.

A certo número de pessoas foi dado uma autoridade acima de seu nível de competência. Mui brasileiramente pretenderam “dar um jeitinho” se houvesse problemas. Estavam enganados. Neste tipo de segurança o país funciona a contento.

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