O Japão planeja impulsionar as exportações nucleares, mesmo enquanto ainda tenta acalmar a população, indignada com os vazamentos de radiação da usina de energia nuclear Fukushima Daiichi, atingida por um terremoto e tsunami em 11 de março do ano passado.
“A razão pela qual o Japão está tomando essas perigosas medidas (exportações) é para conquistar oportunidades de negócios e influência diplomática com países em desenvolvimento”, explicou Yuki Tanabe, especialista do Centro Japonês para um Ambiente e Sociedade Sustentáveis (JACSES, na sigla original).
Em dezembro de 2010, verbas para permitir exportação de usinas nucleares para o Vietnã e Jordânia, como parte da cooperação bilateral, foram aprovadas pelo comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
O primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda justificou os acordos dizendo que esses países “querem muito a tecnologia japonesa de alto nível”. Mas Noda disse também que o Japão deve ajudar a “aprimorar a segurança das usinas de energia nuclear nestes países”.
Acordos estão pendentes com vários outros países, incluindo Índia, Bangladesh e Turquia, abrangendo a construção de usinas de energia, a sua operação e gestão por companhias japonesas.
No entanto, ativistas ambientais no Japão e nos países beneficiários deram as mãos contra esses projetos em uma campanha que ganhou força como resultado do vazamento de radiação em Fukushima.
Além dos enormes riscos à saúde causados pela contaminação radioativa, os ativistas estão apontando para os exorbitantes custos da energia nuclear que têm sido demasiado evidentes no Japão nos últimos meses.
A contaminação pela radiação na sequência do colapso em Fukushima obrigou mais de 150 mil habitantes das imediações a fugir.
Além disso, dezenas de milhares de hectares de terras agrícolas foram declarados perigosos para a produção de alimentos. Testes realizados neste mês no mar ao redor indicaram contaminação dos recursos marinhos, tornando-os não comestíveis.
A Companhia de Energia Elétrica de Tóquio, operadora do reator de Fukushima, está sendo confrontada com o pagamento de compensações no valor de mais de 60 bilhões de dólares, forçando-a a solicitar financiamento público.
Tais questões foram destacadas em uma conferência anti-nuclear organizada em 14 e 15 de janeiro em Yokohama por organizações japonesas e internacionais que defendem um mundo livre de armas nucleares.
Palestrantes de países como Coreia do Sul, Canadá e União Europeia apresentaram casos que ilustraram uma forte posição doméstica contra a energia nuclear.
PrafulBidwai, um indiano militante pela energia segura e renovável conhecido internacionalmente, explicou para uma plateia lotada a importância de protestos e manifestações regulares da população local, que vive perto de usinas de energia nuclear.
Atualmente, 3% das necessidades energéticas da Índia são atendidos por usinas nucleares, mas os planos estão em andamento para aumentar este número para 20% até 2020 para apoiar o crescimento econômico e atender a demanda de energia.
A Índia, disse Bidwai, não assinou o Acordo de Não-Proliferação Nuclear e tem um histórico de frágil segurança nuclear, com vários acidentes, incêndios, explosões e vazamentos de água radioativa, que expuseram trabalhadores e a população à radiação.
Em outubro de 2011, Noda e o ministro das Relações Exteriores da Índia, Somanahalli Krishna, concordaram em retomar as negociações sobre como criar condições para uma parceria entre os dois países para promover energia atômica pacífica.
Autoridades e patrocinadores de tecnologia nuclear dizem que as exportações nucleares do Japão devem continuar e apontam para a concorrência da Coreia do Sul.
Conscientização
Mas Kim Heyung, do Movimento Ambiental Sul-coreano contra a Energia Nuclear, explicou em Yokohama que o acidente de Fukushima ampliou a conscientização pública sobre os perigos da energia nuclear.
De fato, uma pesquisa conduzida em outubro mostrou que 68% dos sul-coreanos se opunham à construção de novos reatores, sinalizando a falta de apoio público para seis novos sítios de energia nuclear propostos pelo governo.
A Coreia do Sul assinou um novo acordo de exportação nuclear com os Emirados Árabes Unidos no ano passado e está competindocom o Japão, na Finlândia, para ganhar as encomendas.
A Mongólia, país rico em urânio, também se tornou um ponto central no debate anti-nuclear após a publicação de reportagens em maio do ano passado sobre a intenção do Japão e Estados Unidos construírem no país um depósito para combustível residual.
Selnge Lkhagvajav, membro do Partido Verde da Mongólia, que trabalhou com sucesso contra a energia nuclear, disse no encontro em Yokohama que o seu país não tem os especialistas ou a tecnologia necessários para aceitar energia nuclear ou resíduos. “Países produtores de energia nuclear veem a Mongólia, com as suas leis frouxas, como um local de despejo. Nós lutaremos contra essas iniciativas”, afirmou à IPS.
Japão, que depende da energia nuclear para 30% de sua energia, vem prometendo implementar medidas rigorosas para elevar o nível de proteção contra acidentes do tipo de Fukushima. Mas, Tanabe, do JACSES, desclassifica as medidas como fúteis.
Enquanto isso, os testes em andamento nas instalações nucleares reduziram drasticamente a produção de energia do Japão, e ativistas veem nesta uma oportunidade para o país buscar fontes mais seguras de energia.
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