sexta-feira, 29 de junho de 2012

HÚBRIS

Ralph J. Hofmann

A definição da palavra grega húbris se aplica a uma grande parte do “establishment” político brasileiro:

A húbris ( ὕϐρις) pode ser traduzida como "tudo que passa da medida; descomedimento", ou seja, confiança exagerada, presunção, arrogância ou insolência.

De uma ou outra maneira a húbris acaba chamando a atenção de Nêmesis a deusa da retribuição.

Também nesta linha de pensamento há o provérbio atribuído a Eurípides (porém há controvérsias) de que:

“Aqueles a quem os deuses querem destruir primeiro fazem enlouquecer”

Com isto estão colocadas as premissas. É tentador usar o termo húbris para descrever apenas Lula, com suas bravatas e sua inconseqüência, sua crença em seu cacife que arrasaria as canelas (por canelada ou mordida) de qualquer que se atravesse na sua frente.

Infelizmente a húbris afetou também toda uma classe política. Durante décadas os políticos discretamente faziam fortunas enquanto ocupavam altos cargos. O povo sabia e ao mesmo tempo não queria saber disto, e os políticos de certa maneira mantinham atitudes relativamente discretas.

Subitamente tivemos um alerta que acabou em impeachment. Collor com seu séquito exagerou. Os “Anões do Orçamento” exageraram. Collor não aquilatava a fragilidade de sua situação. Não espalhou o botim corretamente e não avaliou a capacidade de movimentação de massas que vinha do PT. Húbris. Seguida de Nêmesis. E mais, considerando alguns relatos, inclusive de Pedro Collor, estaria pirado desde sempre. A loucura seria um “castigo dos deuses”?

Mas o século XXI inaugurou no Brasil uma atitude de húbris generalizada. Lula foi inteligente o suficiente para não só gerar uma fortuna para os seus familiares como espalhou fortunas entre toda sua estrutura de apoio.

Mas longe vai o tempo em que as fortunas surrupiadas eram discretamente entesouradas. Os apaniguados ocasionalmente sumiam para Paris para discretos bacanais ou mesmo para fins de semana em luxuosíssimos hotéis em praias seletas e discretas ao redor do mundo.

De repente todos são “jet setters”. Suas esposas querem que sua festa seja veiculada na revista “Caras”. O batizado do neto atrai uma revoada de 45 jatinhos executivos para um aeroporto de spa. Filhas casam em castelos na Europa. Meio mundo político comparece.

Mas Nêmesis. Lembram de Nêmesis? Ela também quer seu quinhão.

Talvez não enlouqueça a toda classe. Lula certamente já está dando sinais de demência. Dilma nunca parece ter sido uma grande partícipe do saque. Talvez a deusa se satisfaça com o fato de que Dilma pouco consegue raciocinar logicamente.

Mas há sinais de que a coisa está mudando. O caso Cachoeira esta causando um desconforto inédito até para estes nove anos. O Mensalão teima em não ir embora. Os juizes das mais altas cortes começam a sentir uma aragem gelada penetrar por baixo das barras de suas togas e enregelar suas nádegas.

A Petrobrás, esta grande vaca leiteira de repente constata que a gangrena administrativa chegou ao osso. Não há um presidente do pais com carisma para convencer o povo de que a coroa do rei não é de lata, é de ouro. Graça Foster aparentemente preza sua reputação ou então não vê alternativa. Está causando um choque de realidade. Não creio que vá financiar muitos shows de baixo valor cultural nos próximos anos.

Há fartura de crédito ao consumidor. E de inadimplência também. Os IPI foi reduzido agora quando as vendas estão caindo. Se tivessem reduzido o IPI quando o consumo estava crescendo os custos internos teriam baixado as vendas maiores compensariam a redução da arrecadação e muitos produtos hoje importados teriam seguido sendo produzidos por operários brasileiros. Não adianta Mantega assobiar uma música alegre para manter a sua coragem e fingir que tudo está bem. A previsão de crescimento do PIB beira os 2%. Mesmo com IPI reduzido e juros baixos a grande massa popular não tem como se endividar mais.

São coisas que todos irão notar. Ficará cada vez mais difícil manter o leal eleitorado que ajuda a manter os de sempre no poder. Uma oposição agora terá o direito e a necessidade de abertamente criticar o governo, como sempre o PT fazia antes de ser governo. A imprensa “chapa branca” é apenas ideológica na sala de redação. A nível corporativo devera haver uma movimentação do tipo que em inglês se chama “Cover Your Own Ass” ou CYOA que significa coloque seu rabo a salvo.

Pode levar mais um ano. Mas disto não passa. O malabarista principal que mantinha seis maçãs no ar ao mesmo tempo já deixou cair duas.

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